País desce na contramão

    Enquanto o Brasil era rebaixado pela agência de classificação Standard & Poor´s (S&P), há quase um mês, um número bem maior de países percorria o caminho inverso, subindo degraus na nota de crédito. Em 9 de setembro, o governo brasileiro passou de BBB- para BB+, perdendo o grau de investimento por parte da S&P. 

    Recentemente, 20 países tiveram a nota elevada pela agência, enquanto outros cinco, incluindo o Brasil, foram rebaixados, afirmou ontem o chefe de classificação de risco soberano da S&P, Moritz Kraemer, em uma teleconferência sobre países emergentes. Ao apresentar o balanço, ele não especificou quais os integrantes da lista nem o período considerado. 

    Diferentemente do que o governo brasileiro afirma, a piora da situação do país não se deve ao quadro externo, de acordo com a S&P. Embora a redução do crescimento da economia chinesa seja um fator de risco para os emergentes de modo geral, o Brasil não está entre os países mais expostos a isso, explicaram Kraemer e o diretor sênior da agência Sebastian Briozzo, que também participou da teleconferência. 

    “O problema do Brasil atualmente é a dinâmica fiscal e a falta de consenso para colocar o ajuste como prioridade”, disse Briozzo.”A questão central do país hoje é política”, completou. 

    Para o economista Mansueto Almeida, especialista em contas públicas, o Brasil “acalmaria as agências de classificação de risco” caso sinalizasse com melhora do quadro fiscal para o futuro, ainda que, a curto prazo, a situação continuasse ruim. Ele participou ontem de um fórum de economia em Porto Alegre.

     

    Vulnerabilidade 

    Em um grupo de 20 emergentes, o Brasil é o oitavo com maior risco à China. Em relação à vulnerabilidade aos efeitos da futura alta de juros dos Estados Unidos, está em 18º. Mas quanto à fuga de capitais, aparece em sexto lugar, nesse caso devido aos riscos internos e à perda do grau de investimento pela própria S&P. 

    Os analistas da S&P elogiaram a qualidade das instituições do país, mas disseram que, no momento, predominam aqui incerteza e instabilidade. “Não são muitos os emergentes que dispõem de um sistema judicial como o brasileiro. Por outro lado, os casos de corrupção investigados têm resultado em disfuncionalidade política”, afirmou Briozzo. 

    Kraemer destacou que os países emergentes estão muito menos expostos hoje à crise do que estavam nos anos 1990. “Eles reduziram a vulnerabilidade graças à política monetária e ao câmbio flutuante. Isso resultou em melhora das notas de crédito. Mas, de 10 anos para cá, as reformas escassearam”, afirmou.

     

    Fonte: Correio Braziliense

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