País tem 59,4 milhões de inadimplentes, mostra pesquisa

    DESEMPREGO E QUEDA NA RENDA SÃO APONTADOS COMO AS PRINCIPAIS CAUSAS

    O Brasil tem quase 60 milhões de pessoas com o nome sujo na praça, informa pesquisa do SPC. Em janeiro, os inadimplentes eram 1 milhão a menos. O desemprego (26%) e a queda na renda (14%) são apontados como os principais motivos. O problema atinge mais mulheres (56%) que homens (44%). -SÃO PAULO- A cabeleireira Sandra Rita dos Santos, de 38 anos, viu sua renda cair pelo menos 40% nos últimos meses com o movimento mais fraco do salão de beleza onde trabalha em São Paulo. O resultado foi o atraso nas contas de casa. Seu nome não está “negativado” na praça, já que ela não deixa as contas atrasarem três meses consecutivos. Mas ainda está no vermelho.

    — Minha renda caiu em torno de R$ 800. Atrasei o pagamento de contas como telefone e internet por pelo menos dois meses, desde março passado. Ainda não consegui colocar tudo em dia. Mas não deixo passar três meses consecutivos para não ficar negativada — conta Sandra.

    A cabeleireira se enquadra no perfil do brasileiro inadimplente, segundo pesquisa inédita do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). O levantamento mostra que há no país hoje 59,4 milhões de pessoas com o CPF negativado — o que significa que o nome já foi parar nas listas de inadimplentes, após 90 dias de atraso. Em janeiro, eram 58,3 milhões de inadimplentes. A dívida média em atraso é de R$ 2.980, mas 43% não sabem ao certo o quanto devem.

    Mesmo com sinais de melhorada economia, como ageração de vagas formais de trabalho (no primeiro semestre foram criados 67,3 mil postos, segundo o Ministério do Trabalho), o desemprego (26%) e a quedana renda (14%) ainda são apontados como os principais fatores da inadimplência. A falta de controle financeiro (11%) e o empréstimo do nome a terceiros (5%) também aparecem como causas.

    Segundo o SPC Brasil, a maioria dos inadimplentes é de mulheres (56%), reflexo da população do país. Por faixa etária, a maior concentração de calotes está na faixa entre 25 e 49 anos, que detém 65% da amostra. Enove em cada dez inadimplentes pertencem às classe sC,De E (93%), enquanto os 7% restantes são das classes Ae B.

    — Mesmo com inflação abaixo de 3% e queda nos Juros, o brasileiro ainda não sentiu no bolso os efeitos desse processo. O desemprego continua elevado, e a renda segue deprimida, afetando avida financeira das pessoas—diz MarcelaKawau ti, economista-chefe do SPC Brasil. 48% NÃO ACREDITAM NA RECUPERAÇÃO O estudo revela ainda que, de cada dez endividados, cinco (48%) não creem que conseguirão pagar nem parte das pendências nos próximos três meses.

    — Houve um impacto grande da crise no setor de serviços, onde muita gente das classe sC,De E trabalha informalmente. O resultado foi a diminuição da renda — comenta Maurício Prado, diretor executivo da Plano CDE, empresa que pesquisa esse segmento da população.

    Ele observa que as pessoas fazem uma “seleção das dívidas”. A pesquisa do SPC mostra que, entre os compromissos prioritários, estão os considerados básicos, como plano de saúde (93% dos que têm esse compromisso), condomínio (89%) e aluguel (84%). As contas que mais estão em atraso, mesmo sem ter gerado negativação do CPF, são as de Juros mais elevados, como cartão de loja (84% entre os que têm essa conta), empréstimo em banco ou financeira (74%), cartão de crédito (74%), Cheque especial (72%) e crediário (67%).

    A pesquisa revelou que os inadimplentes atrasam até mesmo o pagamento de compras de supermercado, responsável por 31% das contas não pagas e feitas com cartão de crédito, cartão de lojas, cheque ou crediário. Em primeiro lugar está a compra de roupas, calçados e acessórios, com 60% das respostas.

    Fonte: O Globo

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