Papéis de bancos se beneficiam com queda dos juros e bolsa sobe

    Por Chrystiane Silva, Denyse Godoy e Lucinda Pinto | De São Paulo

    Pelo segundo pregão consecutivo, a Bolsa de Valores fechou em alta. O movimento foi sustentado pelas ações dos bancos e pelos papéis das empresas de commodities. A instabilidade política continua preocupando os investidores e tem limitado as estratégias de longo prazo. O Ibovespa subiu 1,28% aos 63.832 pontos e girou R$ 5,8 bilhões, abaixo da média diária do ano, que é de R$ 6,2 bilhões.

    Entre os papéis do sistema financeiro, a ação que mais subiu foi a do Banco do Brasil, com alta de 4,09%. Nos últimos dias, aumentou a percepção dos investidores de que a queda consistente da inflação pode permitir uma redução mais intensa do que o previsto na Taxa Básica de Juros. A queda dos Juros favorece a diminuição da inadimplência dos bancos. Além disso, pode contribuir para que as operações de crédito sejam retomadas, ainda que gradualmente. Segundo especialistas, as ações também são procuradas porque em momentos de incerteza os investidores preferem os papéis de empresas com boa governança, que pagam bons dividendos e com perspectivas de valorização, como as ações do sistema financeiro.

    No setor de commodities, as ações da Vale e da Petrobras subiram e colocaram o Ibovespa no terreno positivo. As ações preferenciais da petroleira subiram 2,92% e os papéis ordinários tiveram alta de 2,91%. Os contratos futuros WTI com vencimento em agosto fecharam com alta de 1,44% cotados a US$ 45,04 o barril. O maior volume de negócios do Ibovespa ficou com a ação preferencial da Petrobras, de R$ 553 milhões, o equivalente a 9,5% do giro total do Ibovespa.

    Mais uma vez, a estatal anunciou a redução dos preços da gasolina e do diesel. O diretor financeiro e de relações com investidores, Ivan Monteiro, disse que a Petrobras vai priorizar o mercado doméstico em novas oportunidades de captação de recursos. A estatal também quer vender todos os seus ativos de distribuição de combustíveis no exterior. Desde 2015, a empresa já levantou US$ 1,7 bilhão com a venda de ativos no exterior.

    As ações PNA da Vale subiram 1,41% e as ações ordinárias, 1,11%. O preço do minério de ferro teve alta de 2,11% para US$ 65,40 a tonelada. Outro destaque foi a CSN, que subiu 6,46%, cotada a R$ 7,74, a maior alta do dia. De acordo com operadores, o papel recupera parte das perdas acumuladas desde o começo do ano, quando a ação chegou a ser negociada a R$ 12,98. “É um típico movimento de papel que ficou muito tempo parado”, diz Ari Santos, gerente de mesa Bovespa da H.Commor DTVM.

    O baixo volume de negócios das últimas semanas é uma clara demonstração de cautela e redução de estratégias de longo prazo. A principal dúvida é sobre a permanência do presidente Michel Temer no cargo e o que isso significará para a agenda de reformas. Neste momento, uma eventual saída de Temer não será um fator de risco desde que seja garantida a continuidade da política econômica. Há quem considere que o deputado Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, pode representar esse cenário. E, dependendo da forma como essa troca for articulada, ele possa até mostrar melhores condições de aprovar as reformas. “Para o mercado, o que interessa é ter alguém no governo capaz de aprovar as reformas e dar início à retomada da economia”, diz um gestor.

    Mas essa visão não é consensual. Para o economista-chefe da Garde Investimentos, Daniel Weeks, a saída de Temer ainda é pouco provável. “No nosso cenário, Temer vai ficar e isso vai ser bom”, afirma. Ele diz que, em qualquer cenário, a Reforma da Previdência deve ficar para depois das eleições presidenciais. Mas Temer poderia ter mais condições de conseguir uma maioria simples no Congresso e, com isso, passar uma reforma secundária. “Não está tão claro se Maia teria esse apoio e ele também pode vir a ser alvo de denúncias”, afirma. Além disso, enquanto com Temer a permanência da equipe econômica é uma certeza, uma mudança no Executivo deixaria essa incerteza. O analista da corretora Elite, Hersz Ferman, diz que não há indicação de que a gestão Temer acabou. “Nosso cenário continua sendo de continuidade do governo, mas enfraquecido”, diz.

    Fonte: Valor

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