Autor: Thais Carrança
Com os aumentos das tarifas de energia elétrica e combustíveis e a diluição do efeito da safra agrícola recorde sobre o preço dos alimentos, a prévia do indicador oficial de inflação deve voltar ao terreno positivo em agosto. A média de 22 estimativas de consultorias e instituições financeiras reunidas pelo Valor Data aponta para uma alta de 0,40% no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) este mês, revertendo queda de 0,18% em julho.
O intervalo das projeções vai de 0,24% a 0,50%. No acumulado de 12 meses, a estimativa média é de um avanço de 2,73%, abaixo dos 2,78% de julho e ainda mais distante da meta de inflação, de 4,5%. Se confirmado, será o menor patamar para o índice acumulado em 12 meses desde março de 1999, início do regime de Câmbio flutuante no país.
A média das projeções para o IPCA-15 também aponta para uma aceleração da inflação, na comparação com o IPCA fechado de julho, que apresentou avanço de 0,24% sobre o mês anterior. Ainda assim, na visão de analistas, o patamar historicamente baixo da inflação acumulada em 12 meses indica que os preços seguem sob controle e não apresentam ameaça para a manutenção do ritmo de corte dos Juros. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga hoje a prévia da inflação.
“A mudança prevista na trajetória deflacionária do índice se deve aos aumentos de impostos e da bandeira tarifária, que devem ter impacto positivo nos preços do combustível e nas contas de luz”, afirma relatório do Fator. A instituição estima alta de 0,24% para o IPCA-15 este mês, o que levaria o acumulado em 12 meses a 2,57%.
O Haitong calcula que somente o reajuste de impostos sobre combustíveis, válido a partir de 21 de julho, foi responsável por 0,47 ponto percentual do salto de 0,59 ponto da inflação com relação ao mês anterior. O banco projeta a prévia da inflação em agosto em alta de 0,41%.
Também os alimentos, com peso de 25% na despesa das famílias, devem contribuir para a mudança de sinal do indicador inflacionário. “Já passou o impacto maior da safra agrícola, que influenciou bastante a deflaçãodo IPCA-15 de julho e a inflação baixa no IPCA fechado daquele mês. Os alimentos voltam a subir um pouco, mas com taxas abaixo do ano passado”, diz Eduardo Velho, economista-chefe da INVX Global Partners.
Apesar disso, com a taxa acumulada em 12 meses mais baixa do que em julho e inferior ao piso da banda de tolerância do sistema de metas de inflação (3%), não há pressão para redução no ritmo de corte dos Juros, defende o economista. “Não há força de demanda, a volta da inflação é puxada pelos preços administrados, o que dá tranquilidade ao Banco Central para continuar reduzindo Juros“, diz Velho.
Segundo o banco UBS, o mercado deverá monitorar de perto os números de inflação subjacente, índices de difusão e a inflação de serviços para determinar o andamento da política monetária. O banco espera que os índices oficiais de inflação continuem a subir ao longo do segundo semestre, não devido à economia, que apenas começa a dar sinais de recuperação, mas pela base fraca de 2016.
O UBS estima que o IPCA feche o ano em alta de 3,7%, ante projeção do mercado de 3,51%, conforme o boletim Focus.
Fonte: VALOR ECONÔMICO