Para ortodoxos, falta de autonomia do BC prejudica programa

    Por Vanessa Jurgenfeld | De São Paulo

     

    Para alguns economistas, é preciso mudar o sistema de definição da política monetária, com uma maior autonomia operacional do BancoCENTRAL (BC). Economistas ortodoxos têm dito que, por estar muito vinculado à Presidência da República, o BC pode (e estaria) sofrendo interferência política nas suas decisões, o que prejudica o bom funcionamento do regime de metas de inflação.

    Renato Fragelli, da FGV-Ibre, diz que, para dar certo o regime, o BC tem que ter autonomia operacional, mas ressalta que essa autonomia não significa que caberia ao BC, capitaneado por técnicos, definir qual seria a inflação do país. “Mas o que não pode é o tecnocrata não poder executar as medidas técnicas para atingir aquela meta fixada pelo eleito. Aí não vai funcionar”.

    Eduardo Velho, da INVX Global Partners, defende uma definição “clara” do mandato do colegiado de diretores do BC para garantir que não haja potenciais intervenções políticas nas suas decisões. Além disso, fala da necessidade de se criar um mandato fixo, com possibilidade de sua renovação. A fixação desse mandato deveria estar descolada do calendário eleitoral. “O diretor poderia entrar em 2016 e ir até o ano seguinte do outro governo”, exemplifica.

    Nem todos os economistas concordam com essa avaliação. Para Luiz Fernando de Paula, da UERJ, autonomia operacional o BC já tem. “Para aqueles que defendem um regime mais rígido, um desdobramento lógico é adotar uma independência política do BC [com mandatos não coincidentes com o do presidente da República]”, diz o economista. “Mas é curioso que o próprio [Milton] Friedman era contra a independência do BC. Ele dizia que o Fed iria assim fazer o jogo político de todo modo”.

    Para André Biancarelli, da Unicamp, a discussão em torno da inflação precisa ser maior do que isso, especialmente por economistas que não compartilham dos “pressupostos teóricos questionáveis do regime, nem da sua visão estreita sobre o que seja a inflação ou a moeda”. Ele considera que a discussão sobre inflação está “aprisionada” hoje no Brasil.

    Uma agenda ampla de debates, sugere Biancarelli, deveria incluir as múltiplas causas da inflação recente; a flexibilidade necessária para acomodar os choques de oferta; o papel do câmbio no combate à inflação e seus impactos sobre o resto da economia; medidas de desindexação; e o poder diferenciado de fixação de preços entre os diferentes agentes.

     

    Fonte: Valor Econômico

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