Não é de hoje que o PMDB vem tentando mudar sua imagem de partido fisiologista, que só se apega a cargos. Influenciar e mostrar seu peso parlamentar para a aprovação da política econômica de Joaquim Levy faz parte de um movimento que aparentemente contrasta, mas é complementar à estratégia de barganha permanente dos pemedebistas.
O partido, com a “curva de aprendizado” dos últimos anos, sofisticou seus métodos de negociação de espaços de poder. Precisa de cargos para obter votos – como quer toda agremiação que se pretende eleitoralmente competitiva – mas não descuida das políticas públicas, que são o terceiro elemento do sistema que se alimenta.
Cargos permitem a elaboração de políticas que, se bem-sucedidas, dão votos, que são a matéria-prima para se (re)conquistar mais cargos e assim sucessivamente.
Para os críticos do PMDB, seu ponto fraco é o pragmatismo, a falta de um programa claro, a facilidade de mudar de lado, ao apoiar qualquer governo. Mas o partido é e está no centro do espectro ideológico, para onde puxa sua preferência, seja em governos do PT ou do PSDB. Encontra aí sua força.
Sem vocação para a liderança de um projeto nacional, a partir do Executivo – seu último candidato a presidente, Orestes Quércia, foi lançado em 1994 – o PMDB se especializou no controle do Legislativo federal, colonizado por seus caciques regionais.
São líderes como Renan Calheiros, Henrique Alves (não reeleito) e o novo “capo” da Câmara, Eduardo Cunha, que, numa atuação mais coordenada do que se supunha, têm influenciado o conteúdo e a forma do processo legislativo. Exemplos são duas importantes medidas que deram mais poder ao Congresso Nacional em relação ao Executivo: o orçamento impositivo e a retomada da apreciação dos vetos presidenciais. Agora, a legenda tenta liderar a reforma política, com o distritão e a defesa do financiamento de campanha por empresas, ameaçado de extinção pelo STF. A política do PMDB está no domínio dos regimentos, das leis, das regras do jogo – para o bem e para o mal.
Fonte: Valor Econômico