Pessimismo com PIB e inflação

    Apesar das seguidas altas de juros promovidas pelo Banco Central, o mercado eleva para 8,46% a previsão do IPCA em 2015. Estimativa para o desempenho da economia também piora e analistas veem recuo de 1,3%, mesmo com pacote de concessões

    Na véspera do anúncio de um novo pacote de concessões na área de infraestrutura – com o qual a presidente Dilma Rousseff tenta iniciar uma agenda positiva na área econômica – o pessimismo do mercado aumentou. O boletim semanal Focus, pelo qual o Banco Central compila estimativas de cerca de 100 analistas sobre os principais indicadores, mostrou ontem que a pioraram as projeções para ao ritmo de atividade e para a inflação em 2015. 

    A mediana das estimativas de queda do Produto Interno Bruto (PIB) passou de 1,27% para 1,30% neste ano. É a terceira vez consecutiva que os analistas revisam para baixo a previsão de encolhimento da economia. Já a expectativa para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo

    (IPCA) subiu pela oitava semana seguida. Passou de 8,39% para 8,46% ao ano, bem acima do teto da meta de inflação, de 6,5%. A elevação ocorreu a despeito de o Banco Central ter promovido, na semana passada, mais uma elevação da taxa básica de juros, que subiu para 13,75% ao ano. Na visão dos economistas, a Selic terminará o ano em 14%. 

    “O governo tenta criar uma agenda positiva, mas o mercado está ainda cauteloso em relação ao aperto monetário dos Estados Unidos”, destacou o economista-chefe da INVX Global Partners, Eduardo Velho, citando a perspectiva de aumento dos juros norte-americanos até setembro, que deve drenar recursos de mercados emergentes, como o Brasil. 

    Para Velho, as previsões da Focus mostram que o mercado tem pouca confiança em relação às medidas de ajuste fiscal aprovadas até o momento. “O que foi feito é importante, mas ainda está com efeito concentrado a curto prazo. As propostas de médio prazo não tiveram resultados bons, como as mudanças do seguro-desemprego e das pensões, além da diminuição das desonerações, que ainda não passou no Congresso”, disse. “Isso mostra que o governo tem muita coisa a fazer se quiser melhorar as expectativas”, emendou. 

    Para Newton Rosa, economista-chefe da Sul América Investimentos, que prevê retração de 1,6% do PIB neste ano, a tendência é que as projeções do mercado continuem piorando. “Os preços de alimentos deveriam começar a cair agora, mas isso não está acontecendo. A atividade econômica está sendo revisada para baixo porque não há sinais de recuperação, especialmente porque os juros estão subindo e isso dificulta qualquer possibilidade de retomada neste ano”, destacou. Na avaliação dele, o pacote de concessões é uma boa iniciativa e pode ser um sinal de alento para esse quadro de atividade fraca, mas ainda precisa ser analisado com cautela.

     

    Desconfiança 

    O economista Thiago Biscuola, da RC Consultores, não se surpreende com a falta de confiança do mercado. “O pessimismo em relação ao crescimento da economia é cada vez maior porque, a cada dia, aparece um dado ruim”, disse ele, que elevou de 1,7% para 1,8% a previsão de queda do PIB deste ano. 

    De acordo com o Focus, as projeções para a inflação em 2016 foram mantidas em 5,5% ao ano, acima da expectativa do Banco Central, que vem elevando Selic continuamente e promete alcançar em dezembro do próximo ano o centro da meta, de 4,5%. “Isso mostra que o mercado ainda não acredita no BC, mesmo com a economia fraca como está”, avaliou Velho, da INVX.

     

    Fonte: Correio Braziliense

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