PIB fraco e inflação em alta elevam o pessimismo

    Desempenho ruim do Produto Interno Bruto no primeiro trimestre alimenta a desconfiança dos analistas em relação à economia em 2015. Fraqueza do ritmo de atividade deve se acentuar, mas a inflação não dará trégua, o que exigirá maior aperto nos juros

    No primeiro dia útil após a divulgação do resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, cresceu o pessimismo do mercado em relação aos principais indicadores da economia. Analistas ouvidos pelo Banco Central na pesquisa Focus, que na semana passada previam que a taxa básica de juros (Selic) chegaria a 13,75% no fim de 2015, acreditam agora que ela avançará até a 14% ao ano. Atualmente, a Selic está em 13,25%, mas, amanhã, o Comitê de Política Monetária (Copom) definirá o patamar em que ela permanecerá até meados de julho. Entre os economistas, o consenso é de que haverá mais uma alta, de 0,50 ponto percentual, o que levaria a taxa para 13,75%. 

    Como juros elevados significam ritmo mais lento da atividade econômica, os analistas passaram a apostar numa queda de 1,27% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. Na semana passada, a previsão era de retração de 1,24%. A projeção para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi elevada pela sétima semana consecutiva, para 8,39%, em 2015, e 5,50%, em 2016. Os economistas que mais acertam a previsões, os Top Five, acreditam em carestia ainda maior neste ano: 8,46%. 

    Seja qual for a aposta mais certeira, ela está bem acima do centro da meta de 4,5% ao ano, que o presidente do Banco CentralAlexandre Tombini, garante que será alcançado em dezembro de 2016. “Acho difícil que a inflação convirja para a meta no próximo ano. Há muitos reajustes de itens como gastos escolares, planos de saúde e salário-mínimo, que devem repetir o IPCA do final de 2015”, afirmou o economista-chefe dobanco ABC Brasil, Luis Otavio de Souza Leal.

     

    Tombo 

    Na sexta-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o PIB brasileiro encolheu 0,2% no primeiro trimestre na comparação com os três meses anteriores. Em relação ao mesmo período de 2014, o tombo foi de 1,6%, um dos piores desempenhos em um ranking de 33 países avaliados pela Austin Rating. O Brasil ficou na 31ª colocação, à frente apenas da Rússia e da Ucrânia, que sofreram queda de 1,9% e de 17,6%, respectivamente. Esse resultado para lá de ruim fez os economistas voltarem às planilhas e aumentarem as projeções de retração neste ano. O Bradesco elevou a previsão de queda de 1,5% para 1,7%. O Itaú Unibanco avisou que as próximas previsões virão “com viés de baixa”. 

    O diretor para a América Latina do Eurasia Group, em Washington, João Augusto de Castro Neves, revelou que vários clientes internacionais já começam a prever retração superior a 2% queda no PIB brasileiro deste ano devido à instabilidade política e econômica do país. “Os dados do primeiro trimestre vieram ruins, mas a expectativa é de piora”, disse. Para ele, apesar de o governo ter conseguido aprovar algumas medidas, não há dúvida de que o ajuste fiscal não será feito no tamanho e no tempo necessário. Com isso, a desaceleração na economia deverá ser mais prolongada, estendendo-se até 2016, o que está deixando os investidores apreensivos em relação ao Brasil. O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, por exemplo, já prevê que a recessão deve continuar em 2016, quando o PIB cairia mais 0,1%.

     

    Serviços 

    Na avaliação de Castro Neves, a reprovação popular à presidente Dilma Rousseff leva os investidores estrangeiros a não descartar a possibilidade de um impeachment. “Há muitas incertezas em relação às investigações da Operação Lava-Jato. Hoje os riscos do PT para Dilma são muito maiores do que os do PMDB. Por isso, os investidores continuam olhando da arquibancada e ninguém está querendo entrar em campo”, emendou. 

    Em relação à retração do PIB, o economista Jorge Arbache, professor de economia brasileira da Universidade de Brasília (UnB), demonstra preocupação, principalmente, com a queda do setor de serviços, que não mostrava retração desde o primeiro trimestre de 2003. “Já estamos vendo uma piora nos dados de emprego, mas em serviços ela ainda não aparece porque, primeiro, o trabalhador cai na informalidade, para depois entrar na estatística”, alertou ele, lembrando que a tendência é de deterioração do mercado de trabalho.

     

    Fonte: Correio Braziliense

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