CRESCIMENTO DE 13% DA AGROPECUÁRIA DEU CONTRIBUIÇÃO DECISIVA PARA FAZER A ECONOMIA CRESCER, DEPOIS DE DOIS ANOS EM RECESSÃO. CONSUMO DAS FAMÍLIAS E SETOR DE SERVIÇOS TAMBÉM AJUDARAM. INVESTIMENTO CRESCE, MAS TAXA ANUAL AINDA É A MENOR DESDE 1996
Rio de Janeiro – Após dois anos de retração, a economia brasileira saiu do fundo do poço em 2017. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1%, depois de encolher 3,5% em 2015 e outros 3,5% em 2016, divulgou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Quem puxou a recuperação do país foi a agropecuária, com alta de 13%, o melhor desempenho anual do setor desde 1996, início da série histórica. Apesar do crescimento, a expansão da atividade econômica, no ano passado foi um pouco menor do que a expectativa do mercado, que apostava em alta de 1,1%.
O presidente, Michel Temer, comemorou o resultado. ‘Eu cumpri o que escrevi no documento Ponte para o Futuro: coloquei a economia do Brasil de pé outra vez. Agora podemos avançar. Não vou deixar o país andar para trás’, escreveu no Twitter. Em vídeo divulgado à noite nas redes sociais, o presidente voltou ao tema. Para ele, o crescimento do PIB pode chegar a 3% em 2018. ‘Isso significa a possibilidade de criarmos, neste ano ainda, mais 3 milhões de novos empregos, que se somarão ao 1,8 milhão de postos de trabalho obtidos nos últimos meses’, disse.
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, destacou o crescimento de 2% dos investimentos no último trimestre de 2014 para concluir que a economia vai continuar se expandindo de forma sólida. ‘É um avanço grande, que confirma nossas expectativas de um crescimento de 3% em 2018’, reforçou. No quarto trimestre, frente ao terceiro, o PIB teve alta de apenas 0,1%. Apesar de perder fôlego, foi o quarto resultado trimestral positivo seguido.
O aumento dos investimentos no fim do ano também foi o argumento usado pelo ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, para observar que ‘o país inaugura um novo ciclo de expansão’. ‘O quarto trimestre apresentou crescimento do PIB de 2,1% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, ou seja, neste momento já estamos crescendo a um ritmo de 2% ao ano’, comemorou.
No mercado, embora positivas, as avaliações foram mais cautelosas. José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, disse que havia grande expectativa em relação ao consumo das famílias, mas a alta observada, de 1%, foi um pouco menor do que se esperava. ‘Não posso dizer que isso compromete as projeções para 2018, mas provavelmente vou rever o número (para baixo)’, afirmou. O Banco Fator estima crescimento de 2,9% para o PIB de 2018.
O consumo das família também frustrou o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Fábio Bentes. ‘Nós esperávamos 1,5% e veio só 1%, porque houve desaceleração no fim do ano’, afirmou. ‘Mas isso ocorreu porque a base de comparação dos dois trimestres anteriores estava inflada. Foi o período em que houve liberação de recursos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço’, lembrou.
Cautela
Para o economista da Austin Rating Wellington Ramos, a expansão de 1% do PIB ficou dentro da expectativa. ‘Basicamente, o setor agropecuário carregou a economia, graças à performance da safra, que, no ano passado, bateu recorde de produção’, ressaltou. O lado negativo, destacou, foi a indústria, cuja produção ficou estável em relação a 2016. ‘O volume de investimento do setor ainda é baixo. O empresário tem olhado com cautela o ambiente do país por conta do desequilíbrio fiscal. Além disso, com o nível baixo dos reservatórios, muitas termelétricas foram acionadas, o que encareceu o custo da energia para a indústria.’
Os serviços cresceram apenas 0,3% em 2017. Porém, a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, observou que o setor tem peso muito grande na economia brasileira – atualmente de 73% – e, por isso, deu uma contribuição significativa para o desempenho anual. A agropecuária tem peso de apenas 5,3%, na formação do PIB, mas o crescimento excepcional do setor fez a diferença. ‘A contribuição da agropecuária foi impressionante. Do valor adicionado em 2017, ela contribuiu com 0,7%’, assinalou.
Pelos dados do IBGE, a geração total de riqueza totalizou R$ 6,6 trilhões em 2017 e o PIB per capita cresceu 0,2%, alcançando R$ 31.587. Rebeca Palis explicou, no entanto, que o país ainda não chegou ao patamar pré-crise, mas atingiu o nível de 2011. ‘Recuperamos apenas parte das duas quedas de 3,5% em 2015 e 2016’, disse.
Apesar de os investimentos terem crescido nos últimos meses de 2017, a taxa de investimento acumulada no ano caiu para 15,6% do PIB – abaixo dos 16,1% em 2016. Foi o menor patamar desde o início da série histórica, em 1996, com a quarta redução anual consecutiva. A taxa de Poupança, por sua vez, subiu para 14,8%, ante 13,9% no ano anterior.
‘A construção civil teve queda de 5%. Por isso, a taxa de investimento ficou tão baixa. Mais de 50% dos investimentos são ligados à construção’, explicou Rebeca. Foi o quarto ano seguido de retração da construção civil. ‘Não fosse o comportamento do segmento, a indústria teria tido crescimento, em vez de ficar estável’, ressaltou.
No fim do ranking
A alta de 1% do Produto Interno Bruto (PIB), em 2017, deixou o Brasil na última posição em um ranking de 45 países que já divulgaram suas contas nacionais, conforme dados levantados pela Austin Rating. A lista é liderada pela Romênia, que registrou crescimento de 6,9% no ano passado, seguida pela China, com alta de 6,8%. ‘O país saiu da recessão e o ambiente para um crescimento maior em 2018 está melhor, mas quando a gente olha para essa taxa de apenas 1% no contexto global, ainda é vexatório para uma economia com o tamanho do Brasil e com uma indústria tão diversificada’, lamentou Alex Agostini, economista-chefe da Austin.
Fonte: CORREIO BRAZILIENSE