Planalto avalia que manifestações tiveram foco definido, mas rejeita impeachment de Dilma. Oposição reacende ânimo por cassação e quer instalar comissão na Câmara
O governo de Dilma Rousseff reconheceu que as manifestações de ontem foram expressivas, porém, renúncia, impeachment ou mesmo a cassação da chapa – as opções lidas pela oposição depois do movimento de ontem – estão fora de cogitação pelos ocupantes do Planalto. “Dilma obteve 54 milhões de votos”, lembrou o vice-líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (PT-SP). “As manifestações praticamente repetiram as de março de 2015. Portanto, cabe à oposição desistir da agenda de impeachment e ao governo dar uma resposta às reivindicações da classe média na economia”,
Nos bastidores, os aliados da presidente se mostram bastante preocupados com a expressividade das manifestações, que, desta vez, avaliam, teve foco. Não ficou dispersa em críticas ao desemprego e à inflação. Foi direcionada ao apoio às investigações em curso na Lava-Jato e ao “fora, PT” e “fora, Dilma”, como avaliaram os próprios ministros que participaram da reunião com a presidente da República no Palácio da Alvorada.
Apesar das preocupações do governo, a primeira resposta do Planalto a respeito, depois de duas horas de reunião entre ministros, aliados e a presidente Dilma, foi uma nota lacônica. “A liberdade de manifestação é própria das democracias e por todos deve ser respeitada”, diz texto da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República. “O caráter pacífico das manifestações ocorridas neste domingo demonstra a maturidade de um país que sabe conviver com opiniões divergentes e sabe garantir o respeito às suas leis e às instituições.”
Enquanto o governo tenta reagir, as oposições reacendem o ânimo pró-impeachment e esperam aproveitar o embalo das manifestações para acelerar a tramitação do pedido na Câmara. “Acredito que, antes da Semana Santa, conseguiremos eleger a comissão processante. É o que as ruas esperam de nós, o impeachment da presidente Dilma”, diz o deputado Marcus Pestana (PSDB-MG).
O processo, porém, não é tão simples assim. Espera-se que esta semana o Supremo Tribunal Federal dê a palavra final sobre rito a ser seguido. Feito isso, começa a batalha pela instalação da comissão especial de deputados. A expectativa é a de que a decisão da Casa sobre o impeachment ocorra em final de maio. Daí, segue para o Senado.
Até final de maio, dizem alguns, não é possível saber o que irá acontecer, porque quem dita o ritmo da política hoje é a Lava-Jato. E a operação tem ramificações para todo o gosto. Não por acaso, em meio ao “fora, PT” e o “fora, Dilma”, viu-se um número expressivo de manifestantes pedindo a saída de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) da Presidência da Câmara, e de Renan Calheiros (PMDB-AL) da Presidência do Senado. Diante disso, há quem considere impossível levar o processo contra Dilma ao plenário da Câmara enquanto Cunha for presidente da Casa.
Dentro do PMDB, existe uma corrente disposta a correr com o processo de impeachment para ver se, entregando a cabeça da presidente Dilma aos manifestantes, eles esquecem das denúncias envolvendo os peemedebistas e deixam o vice-presidente Michel Temer governar em paz. Ocorre que, com tanto apoio à Lava-Jato, há quem considere difícil esquecer esses personagens, que chegaram junto com Temer à convenção do PMDB no último sábado.
Uma nota divulgada ontem no final da tarde pela Rede Sustentabilidade da ex-senadora Marina Silva indica que o PMDB tem motivos para ficar preocupado. Tudo indica que a Rede não vai desistir das apurações sobre a campanha de 2014, tampouco das ações no TSE, algo que chegou a ser discutido nos bastidores entre PSDB e PMDB. “Quanto mais evidentes os indícios de que a corrupção da Petrobras foi a base financeira da campanha do PT-PMDB, maior o imperativo ético de uma resposta via TSE”, afirmou o partido em sua página na internet.