Política dos BCs muda gestão de risco da renda fixa

    Os enormes programas de compras de bônus lançados pelos Bancos Centrais como reação à crise financeira mundial levaram os mercados de renda fixa a território desconhecido. Os atuais investidores enfrentam prejuízos, num momento em que os BCs revertem os estímulos financeiros e elevam as taxas de Juros. Isso está alimentando a demanda por estratégias que ofereçam uma relação mais favorável entre risco e recompensa.

    “Os investidores sabem que as taxas de Juros têm de subir do nível em que estão, e existe um apetite real entre os clientes por encontrar formas mais inteligentes de administrar os riscos com que se defrontam na renda fixa”, diz Nizam Hamid, diretor de estratégia de fundos de índice (ETFs, nas iniciais em inglês) do braço europeu da gestora WisdomTree.

    Está crescendo o interesse por investimentos conhecidos como “smart beta”, que seguem índices personalizados com objetivo de superar o mercado, como alternativa aos índices de renda fixa tradicionais, que acabam alocando maior peso em emissores governamentais ou corporativos.

    Para Yazann Romahi, diretor de investimentos de estratégias quantitativas “beta” do J.P. Morgan Asset Management, existe demanda dos investidores por índices de renda fixa mais bem diversificados, mas os desafios em montar estratégias “smart beta” para bônus são maiores do que para bolsa.

    Matthieu Guignard, diretor de desenvolvimento de produtos da francesa Amundi, diz que os fatores mais comuns das ações “não podem ser aplicados à renda fixa” devido à sensibilidade a mudanças das taxas de Juros e dos riscos de crédito, que são os principais propulsores dos retornos dos bônus.

    Questões referentes a dados também inibiram o desenvolvimento de estratégias “smart beta” para bônus. As dez maiores empresas americanas com ações em bolsa têm um total conjunto em circulação de 280 bônus, segundo o Deutsche Bank, mas a obtenção de dados precisos sobre esses instrumentos pode ser problemática porque muitas transações são contratos privados de balcão, ao contrário das transações feitas em uma bolsa regulamentada.

    A gestora de investimentos Invesco é uma das maiores fornecedoras de ETFs “smart beta”. Oferece ETFs de bônus corporativos americanos que são ponderados pelo fluxo de caixa, vendas, valor contábil e dividendos do emissor. Vende também um ETF referenciado em bônus emergentes ponderado pelo Produto Interno Bruto (PIB), em que o tamanho da economia de um país é empregado para avaliar sua capacidade de saldar dívidas.

    Paul Syms, diretor de produtos de renda fixa de Europa, Oriente Médio e África da Invesco PowerShares, registra uma “verdadeira sede” entre os investidores por entender essas estratégias. De acordo com a Invesco, mais de metade dos investidores que atualmente não usam “smart beta” estudariam a possibilidade de aplicar suas técnicas ao investimento em ações. Mas seu interesse em aplicar o “smart beta” à renda fixa varia de 24%, para bônus soberanos, a 45%, para bônus corporativos.

    Simon Klein, diretor de vendas de investimentos passivos da Deutsche Asset, diz que a demanda por fundos de renda fixa “smart beta” está subestimada, uma vez que uma grande parcela dos ativos é gerida em ordens de montante não revelado para investidores institucionais, e não em ETFs.

    Mas outras gestoras estão céticas. “A indexação ‘smart beta’ é um discurso falso. Não sou fã”, diz Greg Davis, diretor da Vanguard. “Os investidores deveriam estar conscientes de que muitos produtos novos baseados em dados coletados produziram resultados muitos diferentes quando entraram em operação.”

    A alta das taxas nos EUA e o fim do período de otimismo dos mercados de bônus estão obrigando os investidores a repensar seu método. “O ‘smart beta’ em renda fixa é a fronteira dos investimentos que mais têm importância para os clientes, e estamos vendo mais estratégias serem construídas. Os clientes estão até dispostos a negociar o rendimento caso essas estratégias possam contribuir para que eles controlem os riscos em um ambiente de alta das taxas de Juros]”, diz Haamid.

    Fonte: VALOR ECONÔMICO

    Matéria anteriorCâmara articula Refis para empresas do Simples
    Matéria seguinteSinal: Carta aberta à sociedade brasileira