Poupança e emissão de letras devem suprir crédito imobiliário

    Por Silvia Rosa e Talita Moreira | De São Paulo

    Com a queda da captação da Poupança nos últimos anos, cresceu a participação dos recursos do FGTS no financiamento imobiliário. Contudo, a crise e a mudança nas leis trabalhistas, que permitirá o saque de até 80% do saldo do fundo de garantia em acordos amigáveis entre patrões e empregados, devem alterar esse quadro.

    Os recursos da Poupança e principalmente instrumentos de mercado, como as Letras de Crédito Imobiliário (LCI), tendem assim a retomar espaço.

    Até 2015, a maior parte do funding das concessões de crédito imobiliário no Sistema Financeiro Habitacional (SFH) vinha da Poupança. No ano seguinte, a participação do FGTS no financiamento imobiliário passou a liderar e essa tendência se mantém neste ano.

    Do total de concessões de crédito imobiliário no SFH no ano até maio, R$ 17 bilhões vieram da Poupança e R$ 26 bilhões, do FGTS. “Hoje há equilíbrio no FGTS entre arrecadação líquida e rentabilidade. Mas, à medida que liberam recursos, o volume disponível e o saldo a ser remunerado caem, diz Gilberto Duarte de Abreu Filho, presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).

    A carteira imobiliária da Caixa Econômica Federal alcançou R$ 412,9 bilhões no fim do primeiro trimestre. Desse saldo, R$ 211,3 bilhões foram concedidos com recursos do FGTS e R$ 200,8 bilhões, com dinheiro da Poupança.

    Em entrevista ao Valor em maio, o vice-presidente de habitação da Caixa, Nelson Antonio de Souza, disse que o banco apostava no crescimento das captações de Poupança para financiar operações de crédito imobiliário, assim como pretendia reduzir as emissões de LCI, que são uma fonte mais cara.

    A Caixa afirma que a liberação do saldo das contas inativas do FGTS, que já somou R$ 41,8 bilhões, foi analisada pela equipe técnica do governo e “não fragiliza a capacidade de investimentos, autorizados pelo conselho curador do FGTS, nas áreas de saneamento, infraestrutura e habitação”.

    No Banco do Brasil, o funding para o crédito imobiliário vem da emissão de LCI e da Poupança. “Temos funding para atender a demanda projetada para este ano”, diz Edson Pascoal Cardozo, diretor de crédito imobiliário do BB.

    No Santander, o funding – constituído 84% por recursos da Poupança e o restante por LCI – também é suficiente para uma aceleração no crescimento da carteira, diz Fabrizio Ianelli, superintendente executivo de negócios imobiliários.

    O Bradesco afirma que também tem funding para atender a demanda deste e do próximo ano. Segundo o diretor de empréstimos e financiamentos do Bradesco, Leandro Diniz, a maior parte (70%) do crédito imobiliário é via SFH, com recursos da Poupança. Os outros 30% são da carteira hipotecária, lastreada por LCI.

    Com a trajetória de queda da Selic, a Poupança tem voltado a ganhar atratividade, o que favorece essa modalidade de funding, diz o executivo do Bradesco.

    Para o presidente da Abecip, o aumento da captação líquida da Poupança não será suficiente para suprir eventual queda do FGTS e o mercado terá que acessar instrumentos alternativos. Do saldo de financiamento imobiliário no sistema financeiro, que somava pouco mais de R$ 610 bilhões em maio, 39% eram de recursos do FGTS, 59% de Poupança e 2% de outros instrumentos, diz a Abecip.

    Fonte: Valor Econômico

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