Presidentes de BCs são austeros ao assumir

    Por Alex Ribeiro | Do Rio

    Quando Ilan Goldfajn e sua equipe assumiram o Banco Central, há um ano, o mercado financeiro tinha forte expectativa de que seria adotada uma meta ajustada de inflação e os Juros básicos da economia cairiam logo em seguida. O que se viu, porém, foi uma posição bem mais dura ao longo de vários meses.

    Um novo estudo do diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Viana de Carvalho, junto com outros dois acadêmicos mostra que comportamentos austeros entre novatos são a norma, e não a exceção. Viana assina o trabalho como pesquisador da PUC-Rio.

    Banqueiros centrais que se sentam pela primeira vez na cadeira de comando, sejam moderados ou conservadores, costumam subir os Juros com vigor para sinalizar que são implacáveis na defesa da estabilidade da moeda e, assim, colher expectativas de inflação mais baixas nos períodos subsequentes.

    O antecessor de Ilan, Alexandre Tombini, também foi austero nos meses que antecederam a sua partida, reforçando o compromisso com a meta de 4,5% em 2017, apesar da recessão. Esse é também um padrão entre os banqueiros centrais: eles costumam ser conservadores quando deixam os cargos, entre outros motivos, para fortalecer a reputação ao terminar o mandato.

    Viana de Carvalho e os economistas Tiago Flórido (Universidade Harvard) e Eduardo Zilberman (PUC-Rio) fizeram um amplo levantamento de períodos de transição em Bancos Centrais em 35 países, de 1984 para cá, e constataram que tanto quem deixa o cargo de presidente quanto quem entra costuma subir os Juros mais do que seria recomendado pelas condições de inflação e atividade econômica.

    A régua usada pelos pesquisadores para medir se os banqueiros centrais são mais duros ou frouxos do que o exigido pelas circunstâncias econômicas é a chamada regra de Taylor. Essa é uma regra de bolso formulada pelo economista John Taylor, da Universidade de Stanford, que diz quanto os BCs devem subir ou baixar os Juros diante de desvios da inflação em relação à meta e do grau de ociosidade ou superaquecimento da economia. Os BCs não seguem à risca a regra de Taylor, como se fosse um manual, mas ela costuma explicar muito bem as variações de Juros ao longo do tempo.

    Os economistas constataram que, nas primeiras reuniões de um banqueiro central e também na última, os Juros costumam subir em média 0,08 ponto percentual acima do que seria de se esperar pela regra de Taylor.

    O passo seguinte foi investigar o que poderia levar os banqueiros centrais a serem mais conservadores. Eles testaram uma grande lista de hipóteses. Uma delas é uma eventual piora nas expectativas de inflação na troca de comando dos BCs, com os agentes econômicos esperando uma má condução da política monetária.

    Outra hipótese examinada é que os BCs tenham reagido a uma suposta piora na política fiscal que ocorreria em fases de transição. Também aventaram se o aumento de incerteza no ambiente que leva a troca do comando do BC teria exigido aperto na taxa de Juros.

    Os testes matemáticos e estatísticos demonstraram que nenhum desses fatores explica a postura conservadora de quem sai e de quem entra no BCs, durante a fase de transição. Exauridas todas essas possibilidades previstas na teoria, os economistas levantam a hipótese de que o comportamento conservador se deve a tentativa de sinalizar austeridade para domar as expectativas e também formar uma boa reputação.

    Estudos anteriores já haviam mostrado que, quando um banqueiro central senta no cargo, sobe mais os Juros para domar as expectativas, mesmo que seja um moderado. A novidade do estudo de Viana de Carvalho, Flórido e Zilberman é construir um modelo econômicos que mostra que, quando um banqueiro central deixa o cargo, age com conservadorismo para ajudar o sucessor a domar as expectativas.

    A intuição por trás desse modelo é que um dirigente que deixa um Banco Central forma um parâmetro de austeridade que seu sucessor só superaria se fosse, de fato, muito conservador.

    Fonte: Valor

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