Pressão de bancos e governos faz bitcoin despencar

    Sistema financeiro mundial e autoridades querem restringir circulação de moedas virtuais e levam milhões de investidores a temer prejuízos milionários. Queda superou os 25% este mês

    São Paulo — As bitcoins e outras moedas virtuais que embalaram o sonho de fortuna de milhões de pessoas estão sob ataque. Nos últimos dias, o sistema financeiro mundial parece ter desenhado uma ação conjunta para cercear o produto que se tornou o maior fenômeno financeiro global desde a corrida do ouro, em meados do século 19.

     No Brasil, bancos como Itaú, Santander e Bradesco se recusam a abrir contas ligadas a corretoras de criptomoedas. Segundo informou o jornal Folha de S.Paulo, o Mercado Bitcoin entrou com uma ação na Justiça para manter sua conta no Santander e o caso pode levar a intensos debates jurídicos. Em 2015, uma disputa parecida entre o Itaú e o Mercado Bitcoin foi parar no Superior Tribunal de Justiça (STJ) — e o banco venceu.

    De um lado, as instituições financeiras tradicionais afirmam que moedas como a bitcoin estimulam a lavagem de dinheiro. De outro, as corretoras de criptomoedas alegam que a intenção dos bancos é asfixiar o novo negócio porque a comercialização das moedas virtuais diminui as margens de lucros dos bancos.

    Seja qual for a verdade por trás do embate, fato é que o assédio contra as moedas virtuais passou a ser uma questão mundial. Na Coreia do Sul, o governo quer obrigar as exchanges locais a compartilhar informações de seus clientes com os bancos do país, além de impor uma taxa que pode chegar a 24% sobre os rendimentos das moedas digitais. A decisão a respeito das novas regras sairá até o dia 30 de janeiro. Na China, o governo também discute medidas para reprimir negociações com criptomoedas, e a ideia principal das autoridades é regular os investimentos.

    A Europa segue pelo mesmo caminho. No começo desta semana, o Nordea Bank AB, o maior banco nórdico, proibiu seus funcionários de realizarem transações com bitcoins e outras moedas virtuais. A proibição entrará em vigor a partir de 28 de fevereiro e se deve à “natureza não regulamentada” do mercado de moedas digitais, conforme comunicado assinado por um porta-voz da instituição. Depois da medida, outros bancos da Suécia anunciaram que também estudam uma série de restrições. Na Noruega e na Dinamarca, há movimentos parecidos.

    O cerco provocou efeitos imediatos na cotação das moedas virtuais. Nos 23 primeiros dias de janeiro, a bitcoin se desvalorizou 25%. Em um único dia, chegou a cair 10%, queda que foi repetida, em maior ou menor grau, por diversas outras criptomoedas. Uma declaração dada ontem por Peter Boockvar, analista veterano de Wall Street e diretor de investimentos do Bleakley Advisory, deixou os investidores ainda mais assustados. Segundo ele, não seria surpresa se a cotação da Bitcoin caísse 90% até o final do ano. Seria o estouro da bolha?

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    Nem todos os especialistas compartilham da mesma apreensão. Para Gregory Braken, analista americano especializado em moedas virtuais, elas são uma força invencível, tão poderosa quanto a internet. “A internet também assustava muita gente no começo, mas foi impossível contê-la”, disse. “Com as criptomoedas, provavelmente acontecerá a mesma coisa.”

    No Brasil, o número de pessoas que investem em bitcoins já supera o total de cadastrados na B3 (bolsa de valores de São Paulo) e no Tesouro Direto. Atualmente são 1,4 milhão de cadastrados nas casas de câmbio que distribuem bitcoins, contra 619 mil na bolsa de valores e 558 mil que investem nos títulos públicos. O número de investidores da criptomoeda vem crescendo 3,5 vezes por ano.

    O resultado reflete principalmente a supervalorização da bitcoin em 2017, o que elevou o faturamento das casas de câmbio especializadas na moeda. É bom lembrar que o Banco Central não recomenda os investimentos em bitcoins, afirmando inclusive que elas representam um risco de “bolha”.

    Fonte: Correio Braziliense

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