Previdência vai influenciar próxima reunião do Copom

    A indicação do Banco Central de que poderá reduzir a Selic em mais 0,25 ponto percentual no começo do ano que vem já provocou mudança de estimativas de parte de analistas e ajudou ontem a limitar a pressão na ponta mais curta da curva de Juros. Profissionais ressalvam, porém, que uma reação mais negativa dos ativos financeiros à deterioração das expectativas para a Reforma da Previdência poderia colocar em xeque mesmo essa “redução moderada” do juro.

    A expressão “redução moderada” foi utilizada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) no comunicado que acompanhou a decisão de quarta-feira. Investidores interpretaram como um claro sinal de que o colegiado pretende voltar a cortar os Juros, mas em ritmo menor – contanto que o cenário se desenrole conforme esperado.

    Foi o bastante para algumas Instituições Financeiras migrarem as estimativas em direção à do BC. O Itaú Unibanco abandonou projeção de corte de 0,50 ponto em prol de uma redução de 0,25 ponto. O BTG Pactual revisou sua estimativa de estabilidade para redução também de 0,25 ponto – mesmo movimento do UBS. Quem já esperava uma Selic 0,25 ponto menor em fevereiro manteve a expectativa, casos de Bradesco e Deutsche Bank.

    O comportamento dos preços na curva a termo de DI na BM&F referenda a maior aposta do mercado em extensão do ciclo de queda de Juros para o ano que vem. Tomando como base o contrato com vencimento em julho de 2018, a curva de DI projeta 68% de chance de queda da Selic abaixo de 7% no primeiro encontro de 2018. No pregão que antecedeu a decisão do Copom, essa probabilidade estava em torno de 56%.

    Porém, os demais 32% refletem a parcela do mercado que ainda vê como mais provável uma postura mais conservadora do BC – no caso, na forma de uma decisão a favor da estabilidade da Selic.

    Do lado das variáveis macroeconômicas, a autoridade monetária ainda tem argumentos para continuar a cortar o juro. E o IPCA de novembro, a ser divulgado hoje, pode se tornar o mais recente deles. Já para dezembro, o índice deve perder ainda mais fôlego, segundo o BNP Paribas, na esteira do fim dos recentes choques em preços administrados. Além disso, a economia até dá evidências de maior tração, mas nada que ameace a ideia de que o hiato do produto continuará bastante aberto em 2018. Na prática, isso significa que a economia crescerá, mas sem pôr em risco a meta de inflação. Por fim, a perspectiva de continuidade do cenário externo benigno a mercados emergentes é outro fator em prol do corte de Juros em fevereiro.

    “A questão é que o mercado deve piorar mais quando o governo reconhecer que não conseguirá aprovar a reforma agora. E a intensidade dessa reação e a duração do mau humor podem fazer o BC abortar o plano de corte de juro”, diz Joaquim Kokudai, gestor da JPP Capital.

    Pedro Barbosa, estrategista de Juros da Renascença, concorda que a decisão do Copom do começo de 2018 será uma “resposta aos movimentos de mercado”. Mas diz que a sinalização sobre a Reforma da Previdênciatem potencial não só de mexer com a decisão de fevereiro, mas, sobretudo, com a capacidade do BC de manter os Juros baixos por mais tempo. “O primeiro impacto disso seria numa desancoragem das expectativas de inflação, num cenário sem reformas acompanhado de deterioração das contas fiscais”, diz o estrategista, para quem o Copom volta a subir os Juros entre outubro e novembro. A Selic terminaria 2018 em 7,5%, contra os atuais 7%.

    Um dos pontos de maior atenção é a taxa de Câmbio. Na pesquisa Focus do Banco Central, a estimativa máxima dentre os agentes consultados indica dólar a R$ 3,60 ao fim de 2018. Isso equivale a uma valorização de 9,5% ante a taxa de fechamento de ontem. Para quem acredita em repasse à inflação da ordem de 0,4 ponto percentual a cada 10% de desvalorização efetiva do real, já seria o suficiente para fazer a expectativa do Copom para o IPCA de 2019 (hoje em 4,2%) superar o centro da meta para aquele ano, de 4,25%.

    Fonte: VALOR ECONÔMICO

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