Projeção de inflação em 12 meses fica abaixo de 6%

    Com os fortes aumentos de preços administrados – sobretudo de tarifas de energia – concentrados no primeiro trimestre, as expectativas para a inflação nos próximos 12 meses já começam a ceder de maneira um pouco mais significativa, se comparadas com projeções ainda bastante altas para o ano de 2015 fechado. De acordo com o boletim Focus, divulgado pelo Banco CENTRAL, a estimativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 12 meses baixou, de 6,11% para 5,99%. É a primeira vez que o mercado vê a inflação em 12 meses abaixo de 6% desde julho do ano passado. 

    Ontem, mesmo a previsão dos analistas de mercado para a inflação deste ano mostrou ligeiro recuo, após o índice de março ter vindo um pouco menos pressionado do que a média esperada. Após 14 semanas consecutivas em alta, a projeção para alta de preços neste ano cedeu. Os analistas acreditam agora que o índice vai terminar o ano com alta de 8,13%, em vez dos 8,20% estimados na semana anterior. A aposta para 2016, contudo, permanece em 5,60%, longe da meta de 4,5% perseguida pelo Banco CENTRAL. A previsão para o desempenho da economia este ano parou de piorar também após 14 semanas consecutivas de queda nas expectativas para o PIB. 

    A revisão ocorre após a divulgação do IPCA de março, na quarta-feira passada, que subiu 1,32%, um pouco menos que o 1,38% esperado pela média das projeções colhidas pelo Valor Data. Essa foi a maior variação para o mês desde 1995, quando avançou 1,55%. Em 12 meses, o índice oficial de inflação subiu 8,13%, a maior alta nesta comparação desde dezembro de 2003. 

    Para Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Fibra, a leve queda na previsão para a inflação deste ano está associada somente à surpresa com o índice do mês passado, e não embute uma melhora das perspectivas para os próximos meses. “Foi muito mais um ajuste automático do que uma revisão de estimativas. Por isso o efeito ocorreu somente nas expectativas para 2015”, diz Oliveira, que trabalhava com aumento de 1,34% para o indicador de março. 

    Como o desvio em relação ao resultado foi pequeno, o economista não alterou sua previsão de 8,3% para o avanço do IPCA neste ano. Oliveira observa, no entanto, que o desaquecimento mais rápido do mercado de trabalho pode levar a inflação a registrar alta pouco menor que a prevista atualmente em 2015, efeito que também será o principal vetor de desaceleração para o indicador em 2016. No cenário do Fibra, o IPCA vai ceder para 5,20% no próximo ano. 

    A descompressão da expectativa inflacionária para os próximos 12 meses, porém, ainda não reflete essa avaliação, mas sim a saída da conta dos primeiros três meses de 2015, que registraram inflação mensal acima de 1,2% devido aos reajustes de preços administrados. “Isso tem mais a ver com a movimentação da janela [de tempo]”, diz André Muller, da Quest Investimentos. Em suas estimativas, o IPCA em 12 meses chegará a 5,7% em março do ano que vem, depois de ter encerrado 2015 em 8,2%.

    Nas últimas três semanas, os analistas de mercado reduziram as previsões para o superávit primário do próximo ano, distanciando-se da expectativa do governo, que prometeu entregar uma economia de 2% do PIB para pagar a dívida pública. O boletim Focus de ontem mostrou que a mediana das estimativas para o primário de 2016 caiu de 1,8% para 1,75% no fim de março e de 1,75% para 1,7% no início de abril. A expectativa para 2015 também está aquém da “meta” do governo, de 1,2% do PIB, mas se estabilizou em 0,9%.

     

    Fonte: Valor Econômico

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