Projeções para PIB e inflação justificam parada do Copom

    Por Claudia Safatle | Brasília

    A expectativa de um PIB negativo de até 0,5% no segundo trimestre do ano, na sequência de um crescimento muito fraco, de 0,2%, no primeiro trimestre, justificaria o fim do ciclo de aperto monetário pelo Copom, na avaliação de fontes do mercado. A desaceleração acentuada da atividade econômica é resultado da combinação dos péssimos indicadores de confiança de empresários e consumidores e da elevação de 3,75 pontos percentuais da taxa de juros Selic.

    Já são visíveis os efeitos do aumento da Selic na contenção do crédito e da demanda, e, também, os efeitos da falta de confiança do setor privado no governo sobre os investimentos. No quesito crescimento, um resumo do ambiente de negócios no país foi dado por um ex-diretor do Banco CENTRAL: “A situação está ruim, está piorando e vai piorar mais”.

    Embora as explicações do governo associem o baixo crescimento doméstico ao pouco dinamismo da economia mundial, a realidade não é bem essa. Há responsabilidade interna, que nada tem a ver com os restos da crise externa, sobre o desânimo que toma conta da produção e do consumo. Tanto que o Brasil está em último lugar em uma lista de mais de 40 países, segundo pesquisa global sobre o Índice dos Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês), do J. P. Morgan, divulgada terça-feira.

    Esse é o indicador mais contemporâneo da economia e guarda boa correlação com o produto. Na pesquisa de maio apenas cinco países estão no campo negativo (abaixo do número índice 50), o que reflete uma piora das perspectivas de maio sobre abril: China, Coreia do Sul, Rússia, Japão e Brasil, nessa ordem.

    Do lado da inflação, o país entra agora em uma sazonalidade mais positiva: os índices mensais devem começar a ceder, mas como no ano passado a inflação dos próximos dois a três meses foi baixa, a taxa acumulada em 12 meses vai subir. Não deve, porém, furar o teto da meta de 6,5% antes de agosto/setembro.

    Atividade em baixa e inflação mais comportada seriam razões suficientes para o BC sinalizar, na ata do Copom de hoje, que o ciclo de aumento dos juros terminou, avaliam fontes da área financeira. Mas o BC também pode deixar o futuro em aberto.

    É na área fiscal que as notícias tendem a piorar, temem fontes oficiais. O Tesouro Nacional está com imensas dificuldades de fechar as contas a cada mês e adia gastos. Com a economia andando devagar, as receitas com impostos não crescem e as poucas iniciativas do Ministério da Fazenda, para elevar tributos, foram vetadas pelo Palácio do Planalto.

    Nesse aspecto, fontes do PT apontam riscos: sem conseguir entregar a meta de superávit primário, o governo pode alimentar novo rebaixamento do grau de investimentos das agências de rating.

    Para essas fontes o ideal seria a presidente da República antecipar a indicação de um bom nome para conduzir a economia em um eventual segundo mandato ou, se isso não for possível, nomear um interlocutor da campanha com o setor privado até a escolha de nomes para comandar os principais postos da economia. Por enquanto não há sinais de que Dilma Rousseff pretenda fazer isso.

     

    Fonte: Valor Econômico

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