Protestos podem abrir caminho para reformas no Brasil, avalia economista

    O economista-sênior para mercados emergentes da Oxford Economics, Aryam Vásquez, aposta na pressão social que pode surgir das manifestações marcadas para o próximo fim de semana como gatilho para o conjunto de reformas que o país precisa fazer. “É o momento ideal para isso. Já está tão ruim que seria bom aproveitar para fazer essas reformas agora. Mas é preciso pressão social. Espontaneamente, não serão feitas”, disse.

    Não se trata, em sua opinião, de falta de líderes, mas da crença desses líderes em um modelo econômico que não atende mais à demanda de crescimento, comum a vários países da região. A recuperação da região, segundo Vásquez, terá que vir de ajustes nos preços das commodities porque, pelo lado político, ele não vê sinalizações positivas. 

    “Eu não acredito. Não vejo essa tendência reformista. É possível que a politica na região mude, que os líderes caminhem para um movimento de reformas, mas não vejo isso”, disse o economista, ao falar sobre o que seria um novo modelo de crescimento. 

    Durante palestra na sede do BNDES, ontem no Rio, Vásquez, a pedido do Banco, não tratou especificamente da situação no Brasil e fez uma análise do cenário de toda a região. Apesar disso, afirmou que acaba de rever para pior as projeções para o país, inclusive a estimativa de crescimento, que era de 0,1% para este ano. 

    O economista trabalha com um cenário de rebaixamento de rating. “Não acho que o Brasil vá perder o grau de investimento, mas vai ser rebaixado, principalmente ser não aprovar o pacote de medidas para a área fiscal”, disse ao Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor. Segundo o economista, “o volume de reservas é suficiente para enfrentar esse cenário, mesmo com a possível saída de alguns investidores”. 

    Vásquez qualificou como “assustador” o momento atual do Brasil no curto prazo. Entre as principais questões do país citou a situação energética, a crise na Petrobras, a necessidade de um ajuste fiscal. Tudo isso combinado com a tendência de o Banco CENTRAL elevar a taxa básica de juro, que considera acertada. 

    “Existe um grande potencial para o país, mas o momento é preocupante porque a América Latina anda como o Brasil anda. O Brasil e o México, talvez”, disse. 

    Ao responder a uma pergunta da plateia Vásquez disse que a política de crédito adotada no Brasil é um dos principais motivos que gerou a crise fiscal. Segundo ele, o país precisa de um política de atração de investimentos mais pragmática. “Comparado com os vizinhos, o Brasil tem provavelmente um dos piores ambientes para investimento. Tudo aqui é mais difícil”, disse, depois da palestra. 

    Segundo o economista, como quase toda a região, o país adotou nos últimos anos um conjunto de medidas de cunho social que beneficiaram as classes pobres. A classe média, porém, ficou de fora.

     

    Fonte: Valor Econômico

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