Reajuste reflete mudança de visão do governo

    Mais do que um sinal de autonomia para o presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, o novo reajuste da gasolina e do óleo diesel é um reflexo da decisão do governo de adotar o “realismo” nos preços administrados, segundo um assessor presidencial. “A ordem é não segurar decisões inadiáveis”, afirmou ele ao Valor. 

    De acordo com esse auxiliar, o reajuste foi discutido nos últimos dias pela Petrobras com os ministérios da Fazenda e de Minas e Energia, que concordaram com a necessidade de uma alta imediata. Para a fonte ouvida pelo Valor, é errado fazer uma leitura de que Bendine tem mais ou menos autonomia do que sua antecessora no comando da estatal, Graça Foster.

    Seria o equivalente a dizer, segundo o auxiliar, que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) tem mais liberdade para fazer os reajustes nas contas de luz. Na verdade, conforme essa argumentação, a ordem é “não protelar” decisões difíceis. Com a mudança de patamar na taxa de câmbio e as finanças da estatal comprometidas, o reajuste era visto como inevitável. “Não é o Bendine que tem mais autonomia. É o espírito do governo que mudou”, resumiu a fonte. 

    O diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, ainda enxerga interferência política na gestão atual da Petrobras. Segundo ele, o percentual do reajuste – de 6% para a gasolina e 4% para o diesel – foi negociado entre a diretoria da estatal e o governo para não permitir que a inflação chegue a dois dígitos. 

    “Reajuste da gasolina é inflação na veia. Calibraram o aumento de 6% para que a inflação não chegue a dois dígitos”, afirmou. O diretor do CBIE, contudo, destacou que o aumento menor que o necessário dos preços dos combustíveis pode significar uma elevação da Cide no futuro. 

    “A Petrobras e o Ministério da Fazenda estavam brigando para ver quem ganharia com o aumento da gasolina”, disse Pires, ressaltando que o aumento dos combustíveis poderia ocorrer via reajuste de preços ou aumento da Cide. 

    Outra leitura de representantes do setor é que Bendine ganhou pontos com o mercado ao aprovar o reajuste via diretoria executiva, e não por meio do conselho de administração. Segundo uma fonte ligada ao comando da estatal, a decisão sobre o reajuste não passou pelo conselho. 

    Na gestão anterior da Petrobras, os reajustes eram frequentemente propostos pela diretoria, então comandada por Graça Foster, mas precisavam passar pelo crivo do conselho de administração da companhia, recheado de integrantes do governo e presidido pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Era comum Graça Foster ir a Brasília para apresentar ao governo planilhas que justificassem a necessidade da correção dos preços dos combustíveis. Na maioria das vezes, porém, o reajuste era negado ou postergado, para evitar impacto na inflação. 

    Mais do que o efeito em números, o reajuste é positivo, na visão do mercado, pelo sinal de autonomia dado pela diretoria. “Apesar do óbvio impacto positivo sobre as finanças da empresa, os investidores em geral ficaram surpresos ao ver a Petrobras reajustando preços dos combustíveis, quando a maioria não esperava por isso”, destacou o J.P. Morgan, em relatório assinado por Marcos Severine e Felipe dos Santos.

     

    Fonte: Valor Econômico

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