Reajustes com ganho real triplicam no 1º semestre

    Autor: Ana Conceição

    A forte queda da inflação em 2017 fez com que a proporção de reajustes salariais com ganhos reais triplicasse no primeiro semestre, na comparação com o mesmo período do ano passado. De acordo com o boletim Salariômetro, da Fipe, 63,6% das convenções e acordos coletivos realizados de janeiro a junho tiveram reajustes acima do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). No primeiro semestre de 2016, essa proporção foi de apenas 20,8%.

    No acumulado de 12 meses até junho, a proporção de reajustes abaixo da inflação caiu de 3,2% para 3%. Em janeiro, essa proporção era de 27,8%. Em junho, a mediana dos reajustes salariais foi de 4,7%, para um INPC de 3,4% em 12 meses, ganho de 1,3 ponto percentual em termos reais. Foi o quinto mês consecutivo de ganho descontada a inflação. Em maio, o aumento real foi de um ponto percentual.

    Helio Zylberstajn, coordenador do Salariômetro, ressalta que por causa da desinflação há uma tendência de alta real de salários mesmo na informalidade. “Isso está acontecendo com quem trabalha por conta própria, por exemplo”, afirma.

    A mediana dos pisos salariais negociados no país no primeiro semestre foi de R$ 1.056, valor ligeiramente superior ao do salário mínimo vigente, R$ 937. No mesmo período do ano passado, o piso estava praticamente igual, para um mínimo de R$ 880. Mas desagregados mês a mês, os pisos salariais caíram ao longo do segundo semestre de 2016 e atingiram um mínimo de R$ 1.020 em fevereiro, para encerrar junho em R$ 1.150 mensais.

    Os ganhos nos salários ocorrem junto com uma estabilização do mercado formal de trabalho. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) separados por Zylberstajn, mostram que, tirando os empregos criados pela agropecuária, forte influência de fatores sazonais, o saldo foi de 49,7 mil vagas a menos no primeiro semestre, número negativo, mas menor que os 612,7 mil postos de trabalho perdidos no mesmo período em 2016.

    “O mercado formal parou de piorar. Não dá para dizer que está em recuperação, porque diante do estoque de empregos com CLT o ganho semestral é muito pequeno, mas parou de cair”, afirma. Incluídos os empregos na agropecuária, o país criou 67,4 mil empregos formais no primeiro semestre.

    Um dos sinais dessa estabilização é que no primeiro semestre, na comparação com igual período de 2016, os acordos contemplando redução de jornada de trabalho e salário caíram de 220 para 42.

    A queda da inflação continuará a beneficiar os ganhos reais de salários até o fim do ano, mas especialmente até setembro, quando o INPC deve chegar a 2,20% no acumulado em 12 meses, de acordo com o boletim Focus, do BC. A partir daí, as taxas devem subir até alcançar 4,1% em junho de 2018.

    O mesmo motivo tem elevado a folha salarial do setor formal. De acordo com informações da Fipe, em abril – último mês com essa informação disponível – a folha salarial chegou a R$ 102,9 bilhões, cifra 1,5% maior do que a observada em março, de R$$ 104 bilhões, e 1,6% maior que o valor de abril de 2016 (R$ 101,3 bilhões). Os números são dessazonalizados. No primeiro semestre, os segmentos que receberam os maiores aumentos reais foram reparação de eletroeletrônicos (3,5%), feiras e eventos (2,3%), agricultura e pecuária (1,6%). Extração e refino de petróleo e condomínios e edifícios tiveram aumento real de 1,4%.

    Sob o ponto de vista regional, os Estados em que os acordos e convenções apuraram o maior ganho real foram São Paulo e Rio Grande do Sul, ambos 1%, seguidos por Pará e Tocantins, com 0,9%, e Rio de Janeiro, com 0,7%.

    Fonte: Valor Econômico

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