No dia em que o Banco Central divulgou que o fluxo cambial financeiro de junho fora o pior para o mês de toda a série histórica, entradas de recursos acabaram blindando o real da onda de vendas que alvejou uma série de moedas emergentes.
O dólar caiu 0,49%, a R$ 3,2921, mínima em uma semana. No fim da tarde, a moeda americana subia 1,4% frente à lira turca e 1,5% contra o rand sul-africano, para citar alguns exemplos.
As taxas de cupom cambial – juro em dólar – cederam, indicando que o custo da moeda americana ficou mais barato no mercado interno. O movimento reforçou a percepção de entrada de capital no pregão. Dessa forma, os fluxos parecem começar julho na direção oposta à vista em junho, quando US$ 4,301 bilhões deixaram o país, em termos líquidos. Foi o pior junho desde 2015 (US$ 4,694 bilhões). A conta financeira foi a responsável pelos dados negativos, com Déficit de US$ 8,928 bilhões, o maior para meses de junho de toda a série histórica disponibilizada pelo BC, com início em 1982.
No ano, o fluxo cambial agregado é positivo em US$ 7,478 bilhões. O argumento do prêmio de risco elevado no Brasil é um dos citados por profissionais para explicar o desempenho acumulado ainda no azul. “O dia em que não há uma notícia muito negativa, o mercado aproveita esse prêmio”, diz o gestor de uma asset no Rio de Janeiro.
O estrategista de um banco estrangeiro diz que, no geral, o Brasil ainda vive uma “ampla oferta” de dólares, em meio a boas condições de financiamento diante da farta liquidez mundial. Ele cita a continuidade dos investimentos estrangeiros produtivos, que mês a mês têm surpreendido o mercado e o próprio Banco Central. “A tendência é de dólar para baixo, e continuamos com essa cabeça”, acrescenta.
Especializada em investimentos em emergentes, a gestora Ashmore acredita que o cenário para mercados em desenvolvimento em geral deve continuar positivo, mesmo com as sinalizações de Bancos Centrais de economias desenvolvidas no sentido de aperto das políticas monetárias. A Ashmore cita o Brasil entre os países com espaço para afrouxar o custo de financiamento enquanto EUA e Europa dão sinais na direção oposta.
A relativa “calma” do Câmbio doméstico permitiu que os Juros futuros também mostrassem viés de baixa ontem. A taxa com vencimento em janeiro de 2019, por exemplo, caiu a 8,76% ao ano, frente a 8,80% do ajuste de terça-feira. O cenário preponderante segue de inflação benigna, o que garantiria ao Banco Central espaço não só para continuar a cortar a Selic como também para eventualmente manter o ritmo de distensão monetária. Em maio, o Copom reduziu a Selic em 1 ponto percentual, para 10,25% ao ano.
Em sintonia com essa avaliação, o BNP Paribas decidiu estender a recomendação de venda de DI janeiro de 2019, após a taxa ter atingido ontem a “meta” de 8,75%. O novo alvo da estratégia do banco é 8,50%. “O risco/retorno continua positivo, em nossa avaliação”, afirma a equipe de estratégia de renda fixa e Câmbio do BNP na América Latina, chefiada por Gabriel Gersztein. Para o BNP, classificar a incerteza política como um fator de influência sobre os DIs mais curtos pode ser “inadequado”, ainda mais quando se leva em consideração a projeção oficial do banco, de Selic a 7% ao fim do ciclo.