Recessão já ameaça Dilma

    Contas descontroladas, inflação alta e juros elevados impedem o governo de tirar a economia do atoleiro

    VICTOR MARTINS

     

    O governo está de mãos atadas. Diante da possibilidade de recessão técnica, com queda do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro e no quarto trimestres, a equipe econômica está sem alternativas para dar mais combustível ao crescimento. Tudo conspira contra. A política fiscal perdeu fôlego, e novos estímulos colocariam em xeque o rating soberano do país. A inflação, mesmo depois do aperto monetário iniciado em abril, continua resistente e obriga o Banco Central a travar a economia com juros cada vez mais altos. Além disso, os bancos freiam o crédito para as famílias, já muito endividadas.

    Nos bastidores, o Palácio do Planalto pede sangue frio, sobretudo diante das críticas à deterioração fiscal. Os técnicos, no entanto, reconhecem que a situação é “mais do que preocupante”. “Infelizmente, as margens de manobra se esgotaram”, admitiu um integrante da equipe econômica. A avaliação é de que a queda do PIB no terceiro trimestre, um consenso no mercado, pode se repetir na última etapa do ano. Até o momento, não há indicadores suficientes para confirmar o quadro que, caso se concretize, configuraria uma recessão técnica — um desastre que, na véspera da eleição de 2014, pode atrapalhar os planos da presidente Dilma Rousseff de ser reconduzida ao comando do país.

    Nos cálculos do Itaú Unibanco, o terceiro trimestre apresentará queda de 0,3% na comparação com o período anterior. “Os estoques ainda elevados da indústria são um sinal de ritmo lento da economia”, ponderou Ilan Goldfajn, economista-chefe da instituição. Segundo ele, o banco projeta aumento dos juros — com a taxa Selic alcançando 10,25% ao ano em janeiro — e crescimento menor dos gastos do governo no próximo ano. “Esses fatores são fontes adicionais de moderação do crescimento.”

    Tony Volpon, diretor executivo e chefe de Pesquisas para Mercados Emergentes das Américas do Nomura Securities, em Nova York, avalia que a fraqueza da atividade deve contaminar 2014, quando o PIB terá expansão de apenas 1,7%. “Recessão técnica no fim de 2013 também não está descartada”, observou. Para Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central, o terceiro trimestre foi muito ruim. “A única coisa que limita o governo a adotar práticas populistas é a possibilidade de o país perder o grau de investimento”, avaliou. Na visão dele, o Planalto ainda se recusa a reconhecer os problemas.

    Dívida

    Para especialistas, a desconfiança começa na forma como vêm sendo administradas as contas públicas, com truques fiscais que minaram a credibilidade de Dilma, do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e do Banco Central. “Se o governo desse sinais de maior responsabilidade no controle de gastos e no combate à inflação, talvez o humor de investidores melhorasse”, disse um executivo de um banco estrangeiro.

    Agências de classificação de risco e entidades internacionais têm mostrado preocupação com a dívida bruta brasileira. Volpon explica que o governo prefere dar destaque à dívida líquida que, na comparação com o PIB, recuou nos últimos dois anos. “Isso foi influenciado pela valorização do dólar. Não fosse esse movimento da moeda e as arrecadações extraordinárias, a situação seria outra”, argumentou.

    E EU COM ISSO

    Em uma recessão — que se caracteriza quando um país apresenta pelo menos dois trimestres consecutivos de queda na atividade — o faturamento das empresas e a geração de empregos podem ser afetados fortemente. Se uma companhia para de lucrar ou começa a ter prejuízos, em algum momento será obrigada a cortar gastos e a demitir. Na pior das hipóteses, até a fechar as portas. Recessão é sinal de desemprego e de redução da renda dos trabalhadores. Por isso a preocupação com o desempenho da economia e as limitações da equipe econômica para gerar estímulos.

     

     

    Fonte: Correio Braziliense

     

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