Recessão maior no fim de 2015 afeta mais 2016

    O ritmo de queda da economia se intensificou no fim de 2015, segundo cálculos do Banco Central, o que aumenta a herança negativa para 2016. De acordo com o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), divulgado ontem pelo BC, no quarto trimestre de 2015 em relação ao terceiro, a atividade recuou 1,9%, aprofundando a queda em relação à retração de 1,6% registrada no terceiro trimestre em relação ao segundo.

    Os dados levam em conta os ajustes sazonais. Ao todo, o IBC-Br aponta queda de 4,08% na atividade em 2015. O indicador serve como antecedente do Produto Interno Bruto (PIB), que será divulgado no dia 3. Ambos, no entanto, têm metodologias diferentes.

    A forte queda registrada pelo indicador do Banco Central no último trimestre de 2015 embute resultados bem ruins de indústria, comércio e serviços. Considerados os ajustes sazonais, a produção industrial caiu mais 3,9% e as vendas do varejo recuaram 2% em relação ao terceiro trimestre, segundo as pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) usados no IBC-Br. O setor de serviços também aprofundou a retração, mas para esse indicador não existe série com ajuste sazonal. Em relação aos mesmos meses de 2014, o volume de serviços prestados caiu 4,2% no terceiro trimestre e 5,7% no quarto trimestre.

    Em dezembro, o indicador do BC recuou 0,52% sobre novembro. Se o ritmo de atividade do último mês de 2015 for mantido ao longo deste ano, o mês deixa “um arrasto de menos 3,33% para 2016”, calculou Fernando Montero, economista-chefe da Tullett Prebon. “Até o fim do ano, a recessão não mostrou nenhum sinal de desaceleração”, diz Thiago Curado, economista da 4E Consultoria. “Além do carregamento estatístico, entramos em 2016 com novas quedas na comparação entre trimestres”, afirma, citando o aumento do desemprego e a queda da renda real como fatores principais para a continuidade da recessão.

    Curado estima que o desemprego chegará a 13,1% no último trimestre deste ano, com recuo da renda real de 1,8%. Segundo ele, o PIB fechou 2015 com queda de 3,8%, e projeta carregamento estatístico de 2,1% para 2016. Ou seja: se a economia permanecer este ano inteiro ´andando de lado´, no mesmo patamar de dezembro do ano passado, a queda seria de 2,1%. Como ele espera novas retrações ao longo do ano, estima novo recuo de 3,4% no PIB.

    Outras instituições esperam uma herança negativa até maior e concordam que a recessão se aprofundou no último trimestre de 2015, o que piora a situação da atividade econômica neste ano. Para Jankiel Santos, economista-chefe do banco chinês Haitong, “o sinal mais importante da avaliação do IBC-Br é o fato de não termos razões para esperar uma performance econômica melhor em 2016”. Ele estima o carregamento estatístico em 3,3%. Mariana Orsini, da GO Associados, tem avaliação parecida. “No último trimestre, houve uma desaceleração generalizada [da atividade econômica]”, diz ela, que estima a herança negativa de 2015 para 2016 em 2,6%.

    Mariana chama a atenção para a mudança na dinâmica da queda neste ano. Como a crise chegou no setor de serviços apenas no fim de 2015, a distância entre os diversos setores será menor. Ela calcula recuo de 6,1% para a indústria, 4% para o comércio e 3% para serviços. Já Curado, da 4E, espera queda de 6,6% para a indústria, 5,6% para o comércio e 2,3% para serviços. A recuperação, se vier, deve começar apenas no segundo semestre. “Os índices de confiança estão parando de cair tanto”, diz Mariana.

    Por enquanto, a economia tem poucos indicadores referentes a janeiro, mas eles não trazem reversão de sinal. Exportações e importações continuaram caindo, a carga de energia elétrica recuou 5,7% em janeiro sobre janeiro de 2015, queda bem superior aos 2,5% do acumulado em 12 meses, e a produção de veículos automotores caiu 29,3% em janeiro na comparação com igual mês do ano passado, de acordo com a associação dos fabricantes (Anfavea), enquanto o licenciamento registrou retração de 38,8% na mesma comparação.

    A queda de 4,08% do IBC-Br em 2015 divulgada ontem foi a pior desde o início da série histórica, em 2003. Os dados captam tanto a contração da indústria (de 8,3% em 2015, pior desde 2003), quanto a queda de 4,3% do varejo (pior desde 2001) e de 3,6% em serviços.

     

    Fonte: Valor Econômico

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