Reforma de Levy prevê aumento de impostos

    Ministro da Fazenda garante que proposta de unificação do PIS/Cofins não visa ampliar a arrecadação do governo. Especialistas, porém, dizem que contribuintes serão penalizados. Chefes do Poder Legislativo rejeitam elevação da carga tributária

    Apesar de o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmar que a reforma do PIS/Cofins, em estudo pelo governo, não implicará aumento da tributação, técnicos da Receita Federal admitem que alguns setores deverão sentir o impacto da mudança. Um dos segmentos que serão afetados é o de call centers, informou o subsecretário de Tributação e Contencioso da Receita Federal, Paulo Cardoso, integrante da equipe doMinistério da Fazenda que elabora o texto, o qual já tem 201 artigos. Segundo Levy, a proposta será encaminhada em breve ao Congresso na forma de projeto de lei. 

    “Algumas áreas serão calibradas. O que provavelmente terá uma calibragem desfavorável, mas muito pequena, é o setor de prestação de serviços ao consumidor final”, destacou Cardoso, que, assim como Levy, participou ontem do seminário “Diálogos Estratégicos – A reforma tributária do PIS/Cofins”, organizado pelo Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP). O subsecretário reconheceu que outros segmentos também podem sofrer elevação de alíquotas, mas terão compensações. “Matematicamente, não tem efeito. A premissa básica é que não queremos, com a reforma, aumentar a arrecadação que temos hoje”, afirmou Cardoso. 

    O subsecretário informou que as microempresas inscritas no Simples e o sistema financeiro como um todo não sofrerão alterações nas alíquotas. A desoneração dos produtos da cesta básica também será mantida. Mesmo assim, a mudança afetará 90% das empresas responsáveis pela arrecadação de PIS/Cofins, que é de R$ 220 bilhões por ano. 

    De acordo com Levy, a proposta unificará os dois tributos de forma gradual. Segundo ele, a reforma vai trazer “segurança jurídica, neutralidade e simplificação”. “Ela diminui o custo das empresas, ajuda a aumentar o emprego e põe o Brasil na rota do crescimento”, afirmou. A promessa de que não haverá aumento da carga tributária, no entanto, foi contestada por outros participantes do evento.

     

    Imaginação

    “Vamos ser francos. Não existe neutralidade absoluta – só se houver 400 mil contribuintes e 400 mil alíquotas”, explicou o especialista em contas públicas José Roberto Afonso, professor do IDP. “Falar que haverá neutralidade é imaginação. É impossível não haver aumento de carga tributária”, emendou o consultor e ex-secretário da Receita Federal Everardo Maciel. “A proposta de reforma terá um aumento inevitável da carga tributária  para todas as empresas.” 

    O presidente da Confederação Nacional de Serviços (CNS), Luigi Nese, destacou que as prestadoras de serviços pagarão a conta porque têm 80% dos custos com mão de obra e menos insumos na composição dos custos. Dessa forma, não conseguirão receber compensações. “Haverá uma transferência de impostos para o setor de serviços”, alertou. 

    Levy vai encontrar resistência também no Congresso. Na abertura do evento, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e o do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), fizeram discursos afinados contra qualquer aumento de impostos. “Aprendemos com os erros das reformas de 2003 e de 2004, quando houve aumento de carga tributária relativa. Vamos debater com serenidade propostas que verdadeiramente coloquem o país nos trilhos do desenvolvimento”, disse Renan. 

    Cunha foi enfático: “Não queiram resolver problemas de caixa impondo ao contribuinte mais um sacrifício”, disse. O ministro do Supremo Tribunal Federal e professor do IDP, Gilmar Mendes, defendeu o diálogo. “Os problemas do sistema tributário são graves e complexos. Partindo do diagnóstico, acreditamos que o debate pode contribuir para a modernização do PIS/Cofins”, afirmou.

     

    Recuo

    Para tentar garantir a aprovação do seu parecer, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), relatora da Medida Provisória 675, desistiu de propor o fim da dedução dos juros sobre capital próprio pagos a sócios e acionistas de empresa da base de cálculo do Imposto de Renda. A medida encontrava resistências no PMDB. Com o receio de ter todo o relatório derrotado, Gleisi retirou a mudança do texto, que foi lido ontem na comissão mista que analisa a MP.

     

    Benefício contestado

    O secretário da Receita Federal, Jorge Rachid, não poupou críticas à desoneração da folha de pagamento das empresas. O benefício, criado no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, permite que companhias de 54 setores deixem de recolher 20% do valor dos salários para a Previdência Social, pagando um percentual sobre o faturamento. Uma proposta do governo que reverte parte dos incentivos já foi aprovada pela Câmara e deve ser votada ainda esta semana no Senado.  

    “O valor desonerado hoje está em torno de R$ 25 bilhões por ano. Se nós distribuirmos esse valor para todas as empresas, poderíamos reduzir a alíquota de 20% para algo em torno de 17% a 17,50%”, afirmou Rachid. Ele participou do seminário “Diálogos Estratégicos – A Reforma Tributária do PIS/Cofins” e explicou que esse dado serve para mostrar como o impacto é grande quando ele é feito de “forma setorial, pontual”. “O correto é fazer a tributação de forma horizontal. É mais justo”, completou. 

     

    Competitividade 

    Rachid defendeu a proposta da reforma do PIS/Cofins e assegurou que ela pode melhorar a competitividade do país. “Acreditamos que esse conjunto de medidas pode propiciar um melhor ambiente de negócios”, disse. No entanto, ele também admitiu que o aumento de alíquota será inevitável, mas ponderou que haverá compensação na cadeia produtiva. “Temos que buscar a harmonização desse modelo. O propósito é que todos os setores sejam tradados de forma igual. Isso é justiça. A distorção é a sonegação fiscal. Ela é uma concorrência desleal”, afirmou. (RH)

     

    Fonte: Correio Braziliense

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