Reformulados, bancos médios aceleram nos empréstimos

    Carolina Mand

    Acima da média do sistema financeiro privado, a expansão do estoque de crédito de um grupo de bancos médios no ano passado dá pistas de que um longo período de ajustes começa a ficar para trás.

    Dados compilados pelo Valor mostram que o conjunto dos sete bancos médios listados na bolsa de valores – ABC Brasil, Daycoval, Indusval, Paraná, Pine, Pan e BicBanco – fechou dezembro com uma carteira de crédito de R$ 57,3 bilhões, cifra 9,2% maior do que no ano anterior. Excluído o BicBanco, que em meio à venda de seu controle para o China Construction Bank (CCB) colocou o pé no freio, os demais bancos médios tiveram expansão de 17,4% nos empréstimos.

    Na média, segundo dados do Banco Central (BC), o crédito nos bancos nacionais privados e estrangeiros cresceu 7,3%, valor puxado para baixo pelo desempenho das instituições de grande porte.

    Ainda que não tenham conseguido melhorar a lucratividade no ano passado, os números do estoque de empréstimos dão indícios de que os bancos médios se fortaleceram para voltar a crescer.

    Entre autoridades, segundo o Valor apurou, o que se considera é que esse período de saneamento dos bancos médios acabou. Agora, depois de mudarem seus perfis de negócios, a tendência é que os bancos que permaneceram no mercado voltem a ter resultados mais robustos daqui para a frente.

    É algo que ainda não aconteceu. Dos sete bancos analisados, apenas o ABC Brasil registrou lucro maior em 2013 na comparação com o ano anterior, de R$ 268,3 milhões, 18,4% superior à cifra de 2012. Pan e Indusval tiveram prejuízo. “Os bancos estão em um período de transição, ainda espelham a volatilidade da mudança. Mas a tendência é positiva”, diz Ceres Lisboa, analista responsável pelo setor de bancos da agência de classificação de risco Moody’s.

    Cada um a sua maneira, desde 2011 os bancos médios passam por reestruturações. Em uma megaoperação de saneamento deflagrada pelo BC alguns inclusive morreram pelo caminho, caso de Morada, Cruzeiro do Sul, BVA e Rural. Outros ganharam sócios para ter mais musculatura.

    É o que ocorreu, por exemplo, com o Indusval. Em março de 2011, Jair Ribeiro, ex-banco Patrimônio, e o fundo de private equity Warburg Pincus injetaram R$ 180 milhões no banco, tornando-se sócios. Depois de uma reviravolta no modelo de negócios, que passou a contemplar um braço de serviços, o Indusval registrou um crescimento de 15,3% no crédito em 2013, com R$ 3 bilhões. Mas ainda acumulou prejuízo de R$ 120 milhões, situação que neste ano o banco já espera reverter.

    Uma das estratégias do Indusval foi reduzir a exposição a crédito para empresas de médio porte, em busca de ativos menos arriscados. Esse foi um recurso bastante comum entre os bancos médios. Pine e ABC Brasil, por exemplo, utilizaram a mesma opção.

    O Daycoval, depois de ficar praticamente sem crescer por um ano e meio em um ambiente de maior inadimplência, se sentiu mais confortável para voltar à carga em meados do ano passado. O saldo de operações do banco avançou 17,9% em 2013, para R$ 8,9 bilhões. Enquanto não via um ambiente mais favorável para o crédito a pequenas empresas, o banco da família Dayan reforçou o estoque de consignado, tipo de empréstimo com baixo risco.

    Ao impor uma forte expansão do saldo de empréstimos por volta de 2010, uma série de bancos viu a inadimplência afetar seus balanços. Simultaneamente, outra porção de bancos quebrou, trazendo um ambiente de incerteza para investidores. O reflexo foi um custo de captação mais alto para os bancos médios. A saída foi se recolher enquanto buscassem nichos mais seguros – e até mais baratos – para operar.

    “A captação é um importante gargalo para os bancos médios. É o passivo que limita a expansão deles”, afirma Manoel Felix Cintra Neto, presidente da ABBC, associação que reúne os bancos médios, e sócio do Indusval.

    Desde o ano passado, algumas mudanças chegam com a promessa de facilitar a captação dos bancos de menor porte. Num incentivo à busca de recursos no varejo, o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) ampliou o limite de garantia dada aos investidores de R$ 70 mil para R$ 250 mil. Neste ano, o BC criou mecanismo para baratear a captação que os bancos médios fizeram no passado com Depósito a Prazo com Garantia Especial, permitindo a redução do “seguro” pago ao FGC.

    “O período de ajustes dos bancos médios já chegou ao fim. Agora, eles voltam com um crescimento de maior qualidade”, diz Carlos Daltozo, analista de bancos da BB Investimentos.

    Os bancos médios listados na bolsa de valores são uma pequena amostra da situação do setor. Entre os fechados, vários já se reformularam ou estão executando seus planos de reestruturação. O banco Fibra, controlado pela família Steinbruch, está deixando para trás o varejo. Em um retorno às origens, o Fibra quer se dedicar exclusivamente aos empréstimos para médias empresas.

     

    Fonte: Valor Econômico

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