Resultado primário é ruim, mas déficit nominal preocupa mais

    Mesmo com R$ 9 bilhões no vermelho em setembro, governo ainda crê no cumprimento da meta ajustada em 2013

    Mariana Mainenti
    Brasília

     

    Em um momento em que o país está sob ameaça de rebaixamento de sua classificação por agências de rating internacionais, o governo divulgou ontem o pior resultado do setor público para o mês de setembro da série histórica elaborada pelo Banco Central. O déficit primário foi de R$ 9,048 bilhões no mês passado. Apesar disso, o governo segue acreditando que o país cumprirá a meta ajustada para 2013. Analistas, no entanto, não acreditam nessa hipótese e dizem que, além do primário, começa a preocupar o resultado nominal, que é a diferença entre o resultado primário e o que o país paga em juros.

    “O que me preocupa é que o governo esteja pagando uma barbaridade de juros. Para os analistas internacionais, o que vale não é o resultado primário e, sim, o nominal. Como o resultado primário está pior e o que gastamos com juros, aumenta, o nominal está crescendo”, afirmou o tribu-tarista Amir Khair.

    “O déficit nominal acumulado em 12 meses está em 3,33% do PIB (Produto Interno Bruto), é o pior desde o fim de 2009, quando chegou a 4%. O dos EUA, país que passou por uma crise séria, chegou a 10%, mas já está em 4%. Corremos o risco de empatar com os EUA”, estimou o economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Mansueto Almeida.

    O resultado nominal surpreendeu o próprio governo que, no ano passado, previa um déficit nominal de 1%, conforme informado na Lei Orçamentária Anual (LOA). “O resultado nominal, que inclui o superávit primário e os juros nominais apropriados, foi deficitário em R$ 22,9 bilhões em setembro. No ano, o déficit nominal alcançou R$ 132,2 bilhões, elevando-se R$ 46,6 bilhões em relação ao mesmo período de 2012. Em 12 meses, o déficit nominal atingiu R$ 155,5 bilhões, 3,33% do PIB, elevando-se 0,21 ponto percentual do PIB em relação ao observado em agosto”, explicou o BC na nota sobre a política fiscal divulgada ontem à imprensa.

    A meta cheia de superávit primário para este ano era de R$ 155,9 bilhões, cerca de 3,1% do PIB, mas foi reduzida pelo governo. E mesmo a meta ajustada de superávit primário para 2013, de 2,3% do PIB, está distante do resultado acumulado nos últimos 12 meses.

    A economia feita para pagamento de juros foi equivalente a 1,58% do PIB. No acumulado do ano, o superávit primário somou R$ 44,965 bilhões, o que significa que, para chegar à meta ajustada seria necessária economia de cerca de R$ 65 bilhões no último trimestre, o que os analistas consideram improvável.

    “O resultado primário apresentado este mês não é pontual. Houve um crescimento de R$ 79,2 bilhões nas despesas de caráter permanente. Apesar da economia fraca, a arrecadação cresceu 8% até setembro. No ano passado, aumentou um pouco menos, 7%, e o resultado primário foi melhor. Isso preocupa bastante, nos próximos meses ninguém espera uma melhora”, afirmou Mansueto.

    Ao anunciar o déficit, o secretário do Tesouro, Arno Augustin, atribuiu o fraco resultado do último mês especialmente à antecipação do pagamento da primeira parcela do 13º salário de aposentados e pensionistas. Essa antecipação, porém, já vem sendo feita desde 2006.

    O chefe do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel, disse que, “em termos de dinâmica”, o resultado não afeta a perspectiva de neutralidade da política fiscal. “O resultado até agora não muda essa perspectiva, que depende de diversos fatores, sobre como vai se desenrolar o cenário fiscal em 2014 e 2015”, afirmou Maciel.

    Na sequência, o ministro Guido Mantega também defendeu a tese de que o déficit inesperado foi pontual. “O resultado de hoje foi relativo a despesas excepcionais que não se repetirão nos próximos meses. A piora foi, principalmente, por causa do 13º (dos pensionistas e aposentados) e dos R$ 2,5 bilhões que saíram para a conta energia, que não havia no ano passado”, justificou.

     

    Fonte: Brasil Econômico

     

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