O último Relatório Trimestral de Inflação (RTI) de 2017, que será divulgado na manhã desta quinta-feira, deverá repetir mensagens recentes do Banco Central (BC) sobre cenário benigno para os preços e espaço para corte adicional de 0,25 ponto percentual da taxa Selic no começo do ano que vem.
Com as sinalizações não devendo sofrer grandes mudanças, o foco se volta para as estimativas de inflação – que por sua vez darão subsídios para o mercado operar diferentes cenários. De modo geral, a expectativa é que as projeções para os preços ainda referendem uma Selic estável ao longo do ano – ou próxima das mínimas históricas. Mas também podem sugerir espaço bem mais apertado para cortes abaixo dos atuais 7% ao ano.
Uma potencial novidade a ser trazida pelo texto de hoje seria uma volta do cenário de referência – que considera Selic e taxa de Câmbio estáveis para cálculo das projeções para o IPCA pelo Banco Central. Os relatórios de inflação de junho e setembro não trouxeram prognósticos baseados no cenário de referência. No RTI de março, o Comitê de Política Monetária (Copom) havia ressalvado que essa abordagem possuía “menos conteúdo informativo”.
Para o Itaú Unibanco, a provável volta do cenário de referência reforça expectativas de que o ciclo de queda da Selic esteja próximo do fim. Nesse caso, o banco estima IPCA de 4,1% para 2019, ante 3,7% no RTI do terceiro trimestre. E a projeção para 2020 avança a 4,4%, ante 3,8%.
O centro da meta de inflação para 2018 é de 4,50%, mas o de 2019 é menor, de 4,25%. Para 2020, a meta é de 4%. Dentro do cenário de mercado – que considera Juros e Câmbio da pesquisa Focus -, os prognósticos do Itaú para o IPCA 2018 (4,2%) e 2019 (4,2%) se mantêm em relação às taxas divulgadas no comunicado e na ata do Copom reportados neste mês.
Ainda assim, o banco diz acreditar que, a despeito de frustração com as reformas, o BC pode levar em conta a magnitude da ociosidade estimada para a economia. E isso levaria a taxa Selic a outro corte de 0,25 ponto em março. A Taxa Básica de Juros, portanto, terminaria o ciclo em 6,50% ao ano.
O risco de demora para redução da ociosidade da economia ao longo de 2018 é o argumento citado pelo banco Haitong para ter como cenário alternativo uma Selic abaixo de 6,75% – taxa na qual a casa vê o juro básico no fim de 2018. Para o economista sênior do Haitong, Flavio Serrano, o cenário para o ano que vem, ainda que positivo, está sujeito a definições, especialmente no campo eleitoral. Por isso, ele entende haver riscos de baixa à atividade econômica, cuja materialização jogaria a favor de projeções menores para a inflação – e, portanto, para a Selic.
Serrano espera IPCA de 4,4% em 2018, puxado não pela recuperação do PIB, mas pelo dólar mais alto (R$ 3,45 ao término do ano). Essa projeção de Câmbio embute valorização de 4,73% ante a taxa desta quarta-feira (R$ 3,2942).
Fonte: VALOR ECONÔMICO