Saques da poupança aceleram

    Se o crédito esboçou alguma reação em junho, o mesmo não pode ser dito da poupança, principal fonte de recursos para o financiamento da casa própria. Em julho, até o dia 29, o volume líquido de saque da poupança bateu os R$ 8,13 bilhões, cifra superior a de junho, em que a aplicação registrou uma saída de R$ 6,26 bilhões. Os dados consideram tanto a poupança imobiliária como a rural.

    Vale lembrar que, tradicionalmente, a poupança costuma registrar um grande volume de depósitos nos últimos dias do mês, o que pode atenuar o quadro de julho.

    No acumulado de 2015, a poupança registra resgate líquido recorde de R$ 46,67 bilhões. A previsão da Abecip, associação do setor, para o desempenho da caderneta em 2015 como um todo, era de um saque de R$ 50 bilhões.

    O quadro da poupança tem preocupado bancos e analistas, em especial pelo efeito que uma piora na escassez de crédito pode ter no setor imobiliário. Segundo relatório do Bank of America (BofA), assinado por Guilherme Vilazante e Daniel Gasparete, o risco de saída de recursos da poupança é superior ao que se espera, e o governo pode precisar intervir outra vez no crédito imobiliário. Na visão dos analistas, a saída de recursos da caderneta neste ano pode chegar a R$ 100 bilhões ou mesmo R$ 150 bilhões em um cenário de stress.

    O BofA mostra que o perfil dos investidores da caderneta mudou nos últimos dez anos, o que levou a um aumento da volatilidade. Nesse período, investidores com aplicações acima de R$ 50 mil passaram a deter 60% da poupança, o dobro da fatia registrada em 2006. Esses investidores são mais atentos ao custo de oportunidade em momentos de alta da taxa básica de juros, como o atual, e tendem a migrar para aplicações mais rentáveis. Já os pequenos poupadores, por outro lado, têm sofrido com pressão no seu orçamento, dado o avanço da inflação.

    Na visão do banco, a continuidade da saída de recursos da poupança demandaria medidas adicionais do governo ou causaria um golpe indesejável na oferta de crédito imobiliário. Para os analistas, embora a última intervenção do governo tenha compensado a fuga de recursos da poupança sem precedentes do primeiro trimestre, o financiamento para o setor ainda está longe de assegurado. Em maio, o governo liberou, via mudanças no compulsório e recursos do FGTS, cerca de R$ 27 bilhões para empréstimos.

    Na visão das incorporadoras, a despeito das medidas de estímulo do governo, os bancos continuam “extremamente seletivos” e menos dispostos a conceder esse tipo de financiamento. É o que afirma o presidente da Associação Brasileiras das Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), Rubens Menin. “Todos os bancos mudaram o critério de risco”, diz. Na visão dele, embora a demanda por financiamento tenha diminuído, a restrição na oferta dos recursos ocorreu em proporção maior.

    Na avaliação do presidente do Secovi-SP, o Sindicato da Habitação, Claudio Bernardes, a liberação de parte dos recursos do compulsório para o crédito imobiliário deu um fôlego ao setor, mas não resolveu a situação. “Os bancos estão mais rigorosos”, diz.

    Para o presidente do Zap Imóveis, Eduardo Schaeffer, houve “algum suspiro” em relação ao crédito imobiliário com as ações, mas nada que mudasse a tendência de recuo do setor.

    Conforme o Índice FipeZap, calculado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) em parceria com o Zap, a alta média no preço dos imóveis anunciados nas 20 cidades monitoradas foi de 0,13%, inferior à inflação projetada par o mês, de 0,58%. “Continuamos a considerar que haverá queda nominal no segundo semestre, nas principais capitais, incluindo São Paulo”, afirma Schaeffer.

    O presidente da Abrainc avalia a liberação de parte dos recursos do compulsório como “solução passageira e não definitiva” para o financiamento imobiliário. “Enquanto não for definida uma regra que estabiliza poupança, qualquer medida vai ser uma forma para tapar buraco”, diz Menin.

    Vale lembrar que, com a Selic no nível que está (14,25%), fica inviável aos bancos captarem recursos no mercado e emprestar em financiamento habitacional, de longo prazo. Isso aumenta a dependência da caderneta.<br< div=””>

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