A economia brasileira está em recessão, de acordo com a sua definição mais popular, depois de registrar contração por dois trimestres seguidos. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, acha que não há uma recessão no país, que, na definição por ele utilizada, envolveria uma parada prolongada da atividade econômica. Embora seja possível debater o momento exato em que estamos no ciclo econômico, nada muda o quadro geral de estagnação da atividade.
Dados das contas nacionais divulgados na sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram uma contração de 0,6% no Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre, na comparação com o período imediatamente anterior. As estatísticas do primeiro trimestre foram revistas e passaram de uma expansão de 0,2% para uma queda de 0,2%.
Para a gerente de contas nacionais do IBGE, Rebeca Palis, a economia não está em recessão técnica. Ela ponderou que a queda do PIB no primeiro trimestre foi relativamente pequena e, nas frequentes revisões estatísticas feitas pelo instituto, não se pode descartar que o número hoje negativo se torne positivo. Na prática, em termos estatísticos, teria havido uma estabilidade do PIB no primeiro trimestre.
Não é possível negar alguma dose de razão ao ministro Mantega quando ele afirma que, por si só, dois trimestres seguidos de PIB negativo não representam, necessariamente, uma recessão. Nos Estados Unidos, por exemplo, está a cargo o Escritório Nacional de Pesquisa Econômica (NBER, na sigla em inglês) definir quando a economia está oficialmente em recessão. Numa análise que envolve muito mais dados do que apenas as contas nacionais, um grupo de economistas independentes procura verificar se ocorre “um declínio significativo na atividade econômica que se espalha por toda a economia e pode durar de alguns meses a mais de um ano”.
Para Mantega, neste segundo semestre, a economia brasileira já estaria em recuperação. O menor número de dias úteis, em virtude da Copa do Mundo, teriam contribuído para derrubar a produção no primeiro semestre. O Banco CENTRAL também tem afirmado que, depois de manter-se praticamente estável no primeiro semestre, a atividade econômica tenderia a entrar em trajetória de moderada recuperação no segundo semestre. O crédito segue crescendo a taxa de dois dígitos, o desemprego é baixo e renda real ganhou um impulso extra com a queda da inflação em meses mais recentes.
Os dados do PIB mostram uma pequena reação do consumo das famílias no segundo trimestre, com avanço de 0,3%, depois de um recuo de 0,2% no período imediatamente anterior. Em meses recentes, houve uma leve recuperação nos indicadores de confiança dos consumidores. O Banco CENTRAL também vem apontando o setor externo como um dos fatores de sustentação da demanda agregada, o que se confirmou nos dados do PIB do segundo trimestre, com um crescimento de 2,8% nas exportações e uma queda de 2,1% nas importações.
Mesmo pesando esses argumentos, não é possível afastar, totalmente, a tese de uma recessão. Da mesma forma que os dados do PIB do primeiro trimestre podem ser revistos para cima, também há o risco de uma revisão para baixo. O mercado de crédito mostra sinais de fraqueza, que levaram o Banco CENTRAL a adotar medidas de estímulos, como liberação de compulsórios e afrouxamento de requerimentos de capital. O baixo desemprego já não é o melhor termômetro quando o mercado de trabalho sofre transformações estruturais, como a queda na taxa de participação. Outros indicadores, entre eles a criação de empregos formais, não são animadores. Mais preocupante, os investimentos tiveram um recuo de 5,3% no segundo trimestre, ante o período imediatamente anterior e as perspectivas para os próximos meses não são nada animadoras. Os níveis de confiança do empresariado estão nos baixos níveis da crise internacional de 2008 e 2009.
Assim, da mesma forma que não se pode afirmar com certeza que não há recessão, não é possível descartá-la. De absolutamente certo, o que existe neste momento é o quadro de debilidade na economia, com crescimento próximo de zero e pouco espaço de política econômica para mudá-lo, a não ser pelas expectativas, diante da inflação ainda alta e da franca deterioração das contas públicas.
Fonte: Valor Econômico