Seis estrangeiros entram no mercado financeiro brasileiro

    Além da volta do suíço UBS, Banco Central autorizou, entre janeiro e 31 de julho, a abertura de escritórios de representação de uma corretora, uma empresa de leasing e três bancos, com sedes em cinco países diferentes

    Léa De Luca

    Nem economia e real fracos, nem a maior vigilância do governo sobre o setor financeiro abalaram a visão de longo prazo das instituições estrangeiras interessadas em disputar uma fatia do mercado local. Somente neste ano, seis já obtiveram autorização do Banco Central (BC) para abrir seu escritório de representação, o primeiro passo para um estrangeiro testar o mercado brasileiro. No ano passado, no mesmo período, apenas dois haviam recebido esse tipo de autorização — o suíço Zürcher Kantonalbank, o sueco Svenska Handelsbanken (além do sul-coreano Woori Bank do Brasil, este para funcionar de fato, com operações no mercado de câmbio).

    Na lista deste ano, além dos tradicionais alemães, espanhóis e suíços, há um banco da Dinamarca e outro da Noruega. O banco dinamarquês Saxo Bank, com sede em Copenhague, que tem mais de 20 escritórios em países da Europa, América Latina, Oriente Médio, Ásia e Austrália, inaugura sua sede no Brasil no próximo dia 2 de outubro, em São Paulo. A autorização havia sido publicada no Diário Oficial em1º. de fevereiro. O presidente do banco no país é o português Pedro Borges, que anunciará os planos do banco no país nos próximos dias.

    O Saxo traz para o Brasil um modelo que não existe aqui: é totalmente eletrônico, sem agências de atendimento. Segundo o BC, em 31 de julho havia ainda 10 processos em análise, de instituições de sete países diferentes: cinco bancos, uma corretora de valores, uma corretora de câmbio, uma distribuidora de títulos, uma empresa de leasing e um escritório de representação – de Alemanha, Espanha,EUA,Holanda, Itália, Paraguai e Peru. E, de acordo com o BC, outros 13 já demonstraram interesse, fazendo consultas informais: 10 bancos, uma leasing e dois escritórios de representação dos EUA, China, Índia, Itália, México e Japão.

    A única licença para operar plenamente até agora neste ano foi concedida ao banco suíço UBS, que havia saído do país quando vendeu em 2009 sua parte na sociedade UBS Pactual para André Esteves e seus sócios, que criaram o BTG Pactual. “A participação dos bancos estrangeiros no sistema financeiro nacional já foi maior. A volta do interesse é saudável e pode beneficiar o mercado, uma vez que essas instituições podem trazer modelos de negócios e produtos e serviços que ainda não existem aqui”, lembra Deborah Vieitas, presidente da ABBI, a associação que reúne as instituições estrangeiras com operação no Brasil. Um dos exemplos é o próprio Saxo. “No Brasil não existe banco eletrônico.

    O antigo Unibanco tentou, com a criação do Banco 1, mas não deu certo na época”, lembra a executiva.Para ela,o interesse dos estrangeiros pelo mercado brasileiro baseia-se na perspectiva da retomada do crescimento, no potencial do mercado e na qualidade e sofisticação do sistema financeiro local. Um escritório de representação é a maneira mais fácil de entrar no país, antes de tomar a decisão de se estabelecer de fato. A aprovação é mais rápida — uma licença plena pode demorar dois anos, como foi o caso do UBS.

    Mas sem esta última, os bancos estrangeiros aqui não podem atuar como verdadeiros bancos, isto é, não podem captar nem emprestar recursos, por exemplo. “Normalmente, esses bancos entram para fazer a ponte entre empresas que atuam no mercado brasileiro e as matrizes lá fora”, diz Erivelto Rodrigues, presidente da Austin Rating. Para ele, a presença desses escritórios quase nunca evolui para a criação de um banco em si e, por isso, não incomoda os bancos, nacionais ou estrangeiros, que já estão bem estabelecidos no Brasil.

    João Augusto Salles, da consultoria Lopes Filho, diz que abrir um escritório é uma forma de colocar o pé no país, sem se comprometer muito. “As instituições estão de olho no médio prazo, no aumento das relações comerciais do Brasil e suas empresas com outros países. O foco sempre é intermediar transações internacionais”, afirma. “A ideia é estreitar contato com companhias locais para fazê-las clientes do banco na matriz.”

     

    Fonte: Brasil Econômico

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