Servidores dão as costas a Tombini em protesto durante comemoração no BC

    A categoria quer reestruturação da carreira e reconhecimento, em lei, de nível superior

    Vera Batista

    Cerca de 50 técnicos do Banco Central viraram as costas para o presidente da entidade, Alexandre Tombini, e se retiram silenciosamente do auditório, durante o discurso pelas comemorações dos 50 anos da autoridade monetária. Todos vestiam camisas brancas com um selo com a frase “Comemorar o quê?!”. O ato de protesto dos servidores, que entraram em greve a partir de hoje até a próxima sexta-feira, foi para expor a indignação diante de mais de 10 anos de acordo assinados com o governo e repetidamente desrespeitados.

    De acordo com o presidente do sindicato da categoria (SinTBacen), Igor Nóbrega de Oliveira, as principais reivindicações são reestruturação da carreira e reconhecimento, em lei, de nível superior. A greve poderá, disse ele, ter forte repercussão no mercado financeiro. Estão praticamente parados, em todo o país, os setores de segurança, transporte de numerário, tecnologia da informação e atendimento ao público, entre outras áreas administrativas. “Quem dá a ordem para o caminhão entrar com o dinheiro é o técnico. E não tem ninguém trabalhando na segurança. Se o estoque de dinheiro acabar, as instituições financeiras vão ficar sem recursos”, destacou.

    O presidente do SinTBacen esclareceu que a categoria não assinará novo acordo antes que os anteriores sejam cumpridos. “Não aceitaremos mais nenhum ‘cheque sem fundo’ do Banco Central e do governo federal”, assinalou Igor. Os funcionários reclamam, ainda, do desvio de função que tem um impacto negativo nos cofres público superior a R$ 17 milhões. Isso acontece porque vários analistas , que ganham salários entre de R$ 13,5 mil a R$ 21,3 mil e têm a missão de pensar a política monetária do país, por falta de pessoal e de concursos públicos, ocupam o lugar dos técnicos, com remuneração mensal entre R$ 5,1 mil a R$ 9,7 mil.

    “É um absurdo que isso ainda esteja acontecendo. O Bacen já reconheceu a necessidade da modernização da carreira, por meio de estudos técnicos e grupos de trabalho, que se reuniram várias vezes. Isso também é uma perda de tempo e de dinheiro público”, denunciou. No início da tarde, os servidores foram em carreata à Organização Internacional do Trabalho (OIT) protocolar uma denúncia contra contra o que definiram como “reiterada conduta antissindical ante o descumprimento injustificado de acordo celebrado em mesa de negociação entre União, BC e sindicatos”.

    De acordo com o Alexandre Augusto Galvão da Silva, diretor do SinTBacen, o comportamento de Tombini, um servidor de carreira do BC, contradiz suas atitudes anteriores. “Ultimamente, algo de estranho acontece. Quando funcionários da casa assumem, mudam seus princípios. Se tornam incompreensivelmente linha-dura”, reforçou. O primeiro dia da greve teve o apoio do presidente do Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central (Sinal), Daro Piffer, que elogiou a perseverança do SinTBacen. “Há muito tempo esses acordos foram firmados, reafirmados e reassumidos e mesmo diante de uma situação que pode causar grande desânimo vocês se encontram aqui, dispostos”, destacou Piffer.

     

    Fonte: Correio Braziliense

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