Por Bernardo Caram
BRASÍLIA (Reuters) – Servidores do Banco Central (BC) aprovaram em assembleia nesta segunda-feira o início de uma greve por tempo indeterminado a partir do dia 1º de abril, informou o presidente do Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central (Sinal), Fábio Faiad.
A categoria vem pressionado o governo por reajustes salariais e reestruturação de carreiras e já vinha adotando operação padrão, com paralisações diárias em horários específicos.
Segundo Faiad, a adoção da greve foi apoiada por mais de 90% dos participantes da assembleia realizada na tarde desta segunda, que reuniu 1.200 pessoas. No encontro, também foi discutida uma entrega coletiva de cargos de chefia.
O Banco Central não comentou de imediato a decisão anunciada pelo sindicato. Na sexta-feira, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse que respeita o direito de manifestação dos servidores, mas afirmou que os funcionários têm “senso de responsabilidade” e que o órgão possui um esquema de contingência caso “algo mais severo aconteça”.
Nesta segunda, Campos Neto faria uma viagem para o Paraná, onde participaria de um evento. No domingo, no entanto, o BC informou o cancelamento da agenda, justificando que ele permaneceria em Brasília para tratar de temas governamentais.
Desde a última semana, o Banco Central vem adiando a divulgação de indicadores e estatísticas. Nesta segunda, foram postergadas as publicações de estatísticas relativas ao mês de fevereiro do setor externo, crédito e resultado fiscal.
A autoridade monetária não informou as razões da mudança, mas o sindicato atribui os entraves ao movimento dos servidores.
Segundo Faiad, representantes da categoria se reuniram no sábado com Campos Neto, mas não houve proposta formal de reajuste ou reestruturação de carreiras.
A economista-chefe da CM Capital, Carla Argenta, disse que o atraso na divulgação de informações pelo BC é muito incomum e cria dificuldades para agentes que estão operando no mercado, já que os indicadores do órgão são usados para traçar cenários e para a tomada de decisões.
“A gente tem pouquíssimas informações até agora desde que eclodiu o conflito na Ucrânia, por exemplo. Qualquer informação nova que a gente tenha, principalmente do setor externo, nos ajuda a desenhar os cenários”, disse. “O atraso nesses dados traz um prejuízo, no sentido de que deixa o horizonte mais nebuloso”.
Argenta diz esperar que não ocorra o que chamou de “pior cenário” se, além das divulgações, o BC começar a registrar problemas nas operações do dia a dia, como leilões cambiais.
A divulgação da taxa Ptax –uma média das cotações de câmbio ao longo do pregão– já sofreu atrasos por causa da mobilização dos servidores.
Fonte: IstoÉ