Sindicatos discordam de PEC da autonomia do BC

    Proposta de emenda está na pauta do Senado, mas deve ser adiada após aceno negativo de Rodrigo Pacheco à votação em plenário

    Banco Central do Brasil
    Se aprovada a emenda, a Constituição passará a incluir um trecho que diz: “o Banco Central é instituição de natureza especial […] sob a forma de empresa pública e dotada de poder de polícia, incluindo poderes de regulação, supervisão e resolução, na forma da lei”; na imagem, sede do BC em Brasília

    Sindicatos e entidades representativas dos funcionários do BC (Banco Central) se manifestaram de forma contrária à PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 65 de 2023. O texto propõe a autonomia financeira e orçamentária da autarquia. Está na pauta do Senado desta semana.

    Segundo o presidente da Força Sindical, Miguel Torres, a autoridade monetária é de responsabilidade do governo e um presidente atrelado a uma gestão anterior prejudica o chefe do Executivo. Já o Sinal (Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central) defende que a autonomia “não é um problema”, desde que seja assegurada por lei complementar, e não por emenda constitucional.

    “A PEC trata da independência do banco como empresa pública. Isso é ruim do ponto de jurídico e administrativo”, disse o presidente do Sinal, Fábio Faiad, ao Poder360.

    Se aprovada a emenda, a Constituição passará a incluir um trecho que diz: “o Banco Central é instituição de natureza especial […] sob a forma de empresa pública e dotada de poder de polícia, incluindo poderes de regulação, supervisão e resolução, na forma da lei”.

    Em nota divulgada nesta 3ª feira (9.jul.2024), posicionaram-se contra a PEC também o Sinal (Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central), Sindsep-DF (Sindicato dos Servidores Públicos Federais no DF), a Anafe (Associação Nacional dos Advogados Públicos Federais) e o Sintbacen (Sindicato dos Técnicos do Banco Central).

    As organizações alegam que a PEC não trariam autonomia, mas independência do BC em relação ao Poder Executivo, e alteraria a natureza jurídica do banco, transformando-o em uma empresa pública sujeita ao direito privado.

    “Por isso, a PEC 65/2023 gera insegurança institucional e representa risco à estabilidade do Sistema Financeiro Nacional e à higidez da atuação do Banco Central quanto à execução da supervisão bancária e das políticas monetárias e de crédito”, afirmam os sindicatos.

    Eles defendem que o melhor formato jurídico para o BC é o de uma Autarquia.

    “Assim, solicitamos a rejeição da PEC 65/2023 na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado Federal. Após tal rejeição, será possível a construção, com serenidade e zelo, de alternativas em defesa do BC e das prerrogativas de seus servidores via projeto de lei Complementar, mantendo o BC como Autarquia e incorporando a autonomia orçamentária de forma segura e consensuada”, dizem.

    DIRETORES DEFENDEM

    Em artigo publicado no Poder360 nesta 3ª feira (9.jul.2024), 4 dirigentes do Banco Central afirmam que o Congresso “tem a chance de aprovar uma emenda constitucional que alinhe a autoridade monetária às melhores práticas internacionais”.

    A PEC está na pauta da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado para discussão na 4ª feira (10.jul). No entanto, o debate pode ser adiado.

    O presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), disse nesta 3ª feira (9.jul) que o assunto requer “cautela” e “prudência”.

    O senador não pretende pautar a proposta de imediato quando chegar ao plenário. “Temos que avaliar circunstâncias de momento. Talvez seja um ingrediente que não ajude a resolver o problema [embate entre governo e BC], disse.

    A posição de Pacheco é defendida pelo sindicato dos funcionários do BC. “É um tema complexo para ser votado de forma atrapalhada e correndo como propõe o relator Plínio Valério[PSDB-AM] e deseja Campos Neto [presidente do BC]”, disse o presidente do Sinal.

    Roberto Campos Neto é um defensor da independência financeira da autarquia, mas diz que esse é uma prerrogativa do Legislativo.

    MEIO TERMO

    Miguel Torres, presidente da Força Sindical, considera a diminuição do tempo de não coincidência de mandatos do presidente da República e do BC como uma solução para o impasse atual.

    A ministra do Planejamento, Simone Tebet, defendeu reduzir de 2 anos para 1 ano o período coincidente entre o mandato do chefe do Executivo e do banqueiro central. “Esse 1 ano é mais do que suficiente, que é o tempo de se adequar e passar o bastão”, disse em 2 de julho.

    O que disse Tebet é uma coisa intermediária, pode ser uma alternativa não tanto ao mar nem tanto à terra”, afirmou Torres.

    ANALISTAS SÃO FAVORÁVEIS

    ANBCB (Associação Nacional dos Analistas do Banco Central) saiu em defesa da autonomia financeira do BCdepois da publicação de artigo assinado por 4 diretores do Banco Central no Poder360 em prol da aprovação da PEC 65 de 2023, que versa sobre o tema. A presidente da associação, Natacha Gadelha Rocha, avalia que a proposta em tramitação no Senado é benéfica ao Estado brasileiro.

    “Foram 4 diretores assinando esse artigo, entre eles diretores que estão há mais de 10 anos no Banco Central, diretor indicado pelo atual governo, pelo governo anterior. Então, isso demonstra que essa é uma pauta de Estado, uma pauta estruturante. O maior objetivo dessa matéria, dessa proposta é realmente beneficiar a população, o país preservando o poder de compra, a estabilidade do sistema financeiro e as inovações via projetos”, declara a este jornal digital.

    AUTONOMIA FINANCEIRA

    Em artigo publicado pelo Poder360, os diretores do BC Ailton Aquino (Fiscalização), Diogo Guillen (Política Econômica), Otávio Damaso (Regulação) e Renato Gomes (Organização do Sistema Financeiro e Resolução) afirmam que a PEC alinhará o BC às melhores práticas internacionais.

    Além dos 4 diretores, o presidente do BC já defendeu em diversas ocasiões a ampliação da autonomia da autoridade monetária do Poder Executivo.

    O Banco Central obteve autonomia operacional em fevereiro de 2021, que estabeleceu regime de mandatos de 4 anos para os 9 integrantes do Copom (Comitê de Política Monetária). A medida permite a decisão do patamar da taxa de juros com maior independência do Executivo.

    Os favoráveis à PEC 65 defendem que é preciso também dar independência financeira e orçamentária à autoridade monetária. Um levantamento do FMI (Fundo Monetário Internacional) mostrou que, de 87 bancos centrais, 64 avaliam que ter um orçamento próprio é a principal métrica para medir a autonomia.

    Além disso, 90% dos bancos centrais com autonomia operacional também possuem autonomia orçamentária e financeira.

    Segundo artigo assinado pelos 4 diretores do BC, a proposta assegura recursos adequados para a manutenção da excelência de suas entregas à sociedade e a ampliação de “sua bem-sucedida agenda de inovação do sistema financeiro”.

    Defenderam que, se aprovada, a PEC 65 alinhará o BC brasileiro às melhores práticas internacionais.

    “O fortalecimento institucional do BC, pilar de credibilidade, contribuirá para que a preservação do poder de compra da moeda seja alcançada por meio de uma política monetária guiada pelos mais exigentes critérios técnicos, minimizando assim os custos para a atividade econômica”, disse o artigo.

    Os diretores afirmaram que o BC tem implementado uma “revolucionária” agenda de inovação, com enormes benefícios para a sociedade. Citaram o Pix, que, segundo eles, promoveu a inclusão bancária de mais de 70 milhões de brasileiros.

    O artigo defendeu ainda que a PEC não modifica as competências do CMN (Conselho Monetário Nacional) na definição da meta de inflação e nas diretrizes para as políticas monetária, creditícia e cambial.

    “Essa autonomia pertence a uma longa agenda de aperfeiçoamento da instituição, perseguindo razões de Estado que superam ideologias e trazem benefícios inequívocos ao país. Assim, é imprescindível que demos esse importante passo em direção à autonomia orçamentária e financeira do BC, de forma que a instituição expanda, ainda mais, a sua capacidade de bem servir o Brasil”, escreveram os diretores.

    PEC 65 DE 2023

    A proposta que tramita no Senado estabelece que o Banco Central é uma instituição de natureza especial com autonomia técnica, operacional, administrativa, orçamentária e financeira e que seria classificada como “empresa pública que exerce atividade estatal”.

    O Orçamento anual de custeio e de investimento da autoridade monetária seria aprovado pela comissão temática pertinente do Senado Federal, no caso, a CAE (Comissão de Assuntos Econômicos).

    Caso aprovada, a autonomia financeira permitiria que o Banco Central usasse de receita própria com os seus ativos para custear suas despesas com pessoal, despesas gerais e outros investimentos. Já a autonomia orçamentária permitiria que o Banco Central elaborasse, aprovasse e executasse seu próprio Orçamento de forma separada e independente do governo.

    Funcionários e diretores do BC afirmam que a instituição tem restrições orçamentárias e que a PEC ajudaria a melhorar o quadro de funcionários. Campos Neto já disse que o envelhecimento do quadro de funcionários faz com que uma pessoa sênior tenha que fazer o trabalho de uma pessoa júnior pela falta de equipe.

    O Banco Central está desde 2013 sem ter novos concursos. O Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos autorizou a realização de um exame, que deve ser feito em agosto deste ano. A expectativa é que tenha 100 vagas, segundo 50 para atividades de tecnologia da informação e 50 para atividades relacionadas às demais áreas do Banco Central.

    Fonte: Poder 360

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