Taxas mais longas de juros refletem incertezas que rondam o mercado

    A dinâmica positiva da inflação abre caminho para que os investidores vislumbrem Juros baixos por mais algum tempo. No entanto, o que ainda se observa no mercado é a desconfiança sobre um cenário estruturalmente mais favorável para a Selic, que a garantiria baixa por períodos ainda mais longos.

    O sinal de alerta aparece na Selic média projetada pelos contratos futuros de Juros para o período entre 2020 e 2021. Nesses contratos, a taxa tem rondado níveis acima de 10%. E é justamente a partir desses períodos que a situação fiscal se agravaria caso a Reforma da Previdência não chegue a sair do papel. “O cenário político melhorou, há redução de riscos sobre a chegada de um governo menos fiscalista e o juro longo se ajustou, mas ainda há grande incerteza no futuro”, afirma o estrategista de renda fixa da Renascença, Pedro Barbosa.

    Para o Ronaldo Patah, estrategista do UBS Wealth Management, o nível elevado do juro longo é uma oportunidade de aplicar no mercado. A aposta não é consenso entre os agentes financeiros. Ainda assim, a leitura de Patah é que a Previdência será reformulada com a chegada de um novo governo, depois das eleições de 2018, o que levará a uma eventual queda das taxas. “O juro longo está muito elevado se partirmos da premissa de que teremos a Reforma da Previdência no ano que vem. Ainda tem prêmio de risco e a oportunidade agora é antecipar o movimento que só vem com a eleição.”

    Sem ajuste das contas públicas, o risco percebido entre os investidores é que a situação vivida atualmente com Selic em baixa seria temporária. Por ora, a surpresa com a inflação alimenta até o debate sobre um ponto ainda mais baixo no fim do ciclo de cortes. “Não dá para descartar dois cortes de 0,25 ponto [da Selic]”, diz o economista-chefe da Maúa Capital, Alexandre de Ázara, que mantém o cenário base de que o Copom dará apenas mais um corte, para 6,50% em março.

    Mas, independentemente do ponto final do ciclo de redução da Selic, uma normalização deve vir para as condições monetárias. Isso significa que, em algum momento, os Juros básicos irão convergir para a taxa “neutra”, aquela que garante o máximo crescimento sem gerar inflação na economia. Para Ázara, um nível estável de Juros que coloque a inflação na meta até 2020 não existe, e a Selic vai ter de subir em algum momento. “A reforma não vai evitar o processo de normalização, mas ameniza o tamanho da alta”, afirma o economista.

    Fonte: VALOR ECONÔMICO

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