Os investidores estrangeiros estão em estado máximo de alerta. Com as eleições brasileiras entrando em sua reta final, muitos começam a traçar cenários para o que será o país depois que as urnas sacramentarem o vencedor. De uma coisa nenhum deles duvida: seja Dilma Rousseff, seja Aécio Neves, o eleito terá que reconstruir as bases da confiança no governo. A imagem do Brasil lá fora nem de longe lembra a euforia de cinco anos atrás, quando o país mostrou uma reação impressionante à crise internacional.
Na avaliação de Ian Herbison, presidente da Speyside Corporate Relations, os investidores estrangeiros reconhecem o potencial da economia brasileira, que tem uma das classes médias que mais crescem no mundo. Mas alertam para os entraves que foram criados nos últimos anos e que levaram o país a conjugar baixo crescimento e inflação alta. “Com certeza, o Brasil continuará na lista preferencial do capital estrangeiro. É preciso, porém, que o próximo governo enfrente questões cruciais para reativar a economia, melhorando a educação, destravando obras de infraestrutura e reduzindo o custo-país”, destaca.
Herbison é especialista em mercados emergentes e transita em setores importantes com pesados investimentos no Brasil: mineração, tecnologia, mineração e finanças. Para ele, apesar de as eleições estarem no topo das atenções, é preciso fazer uma boa diferenciação entre o capital financeiro e o capital produtivo. Esse último veio para o país em busca de boas oportunidade de negócio e ficará por aqui por um bom tempo, graças ao potencial de ganho. “Agora, é preciso que o próximo presidente dê respostas rápidas aos anseios desses investidores, pois as incertezas são muitas”, frisa.
O executivo conta que, diante do que se viu no mundo nos últimos anos, as multinacionais se sentaram em cima de uma montanha de dinheiro à espera de boas oportunidades. Esse quadro, garante ele, começa a mudar, com a confiança voltando entre o empresariado. Portanto, é o momento de o governo acenar com políticas amigáveis ao capital e deixar de lado o intervencionismo que dominou a administração Dilma Rousseff, sobretudo no setor elétrico.
“O capital gosta de estabilidade nas regras, de previsibilidade”, assinala Herbison. “Então, é claro que as empresas se assustaram quando o governo reduziu o preço da energia (por decreto)”, afirma. A perspectiva é de que, pós-eleição, o futuro presidente não só dê a direção a ser seguida no mercado de eletricidade como detalhe, de forma transparente, de que maneira os subsídios à conta de luz estão sendo contabilizados nas contas públicas.
Não é só. Com a corrupção dominando o debate eleitoral, o presidente da Speyside Corporate acredita que o próximo presidente da República terá que dar uma resposta efetiva a esse mal que suga bilhões de reais que poderiam estar melhorando as condições de vida da população. Na opinião dele, o Brasil avançou muito nos últimos 20 anos do ponto de vista institucional, com conquistas importantes nos governos de Fernando Henrique Cardoso e de Lula. Mas a corrupção continua entranhada na máquina pública, minando a imagem da empresa mais importante do país, a Petrobras.
Há companhias estrangeiras que se sentem constrangidas em investir em países nos quais a corrupção é endêmica, pois temem que a imagem delas seja afetada na comunidade internacional. Muitas têm ações negociadas em bolsas de valores e prestam contas a seus acionistas. Nesses casos, não há complacência com malfeitos.
Para Herbison, independentemente das eleições, o recado é explícito: o Brasil está nos planos dos grandes investidores internacionais. Mas a manutenção desse interesse vai depender do que o governo entregará ao capital, principalmente em relação às reformas estruturais, vitais para consolidar o país como grande competidor mundial.
Remessas
diminuem
» Com o baixo crescimento da economia e o faturamento mais comedido, as multinacionais que operam no país reduziram as remessas de lucros de dividendos para suas matrizes. De janeiro a agosto deste ano, foram transferidos US$ 16,4 bilhões, 5% a menos que no mesmo período do ano passado.
Doses extras
de Rivotril
» Operadores de mercado acreditam que, com a incerteza tão grande no quadro eleitoral, muitos investidores tendem a segurar os negócios nas bolsas de valores nesta semana.
A média diária de negócios no pregão paulista, de R$ 8,3 bilhões no mês passado, deve cair para algo mais próximo de R$ 6 bilhões. O sobe e desde do Ibovespa está exigindo doses extras de Rivotril.
Farra de concursos na mira do STF
» O Supremo Tribunal Federal (STF) promete dar um basta aos abusos cometidos nos concursos públicos. Muitos órgãos fazem seleções, mas não chamam os aprovados, que são obrigados a recorrerem à Justiça para tomar posse. No processo que deve ser julgado na próxima quinta-feira, o STF poderá obrigar os responsáveis pelo certame a indenizarem os selecionados por danos morais.
Com Deco Bancillon e Antonio Temóteo
Fonte: Correio Braziliense