Sérgio Tauhata, Edna Simão, Fábio Pupo e Álvaro Campos | De São Paulo e Brasília
Na nova emissão de dívida em dólares feita ontem, o Tesouro Nacional pagou o menor “spread”, ou seja, o prêmio acima do título soberano de mesmo vencimento dos Estados Unidos, desde que o Brasil perdeu o grau de investimento há mais de dois anos. O resultado mostra uma melhora significativa da avaliação dos investidores estrangeiros sobre o país.
A oferta de bônus de dez anos atingiu o montante total de US$ 3 bilhões. Segundo Matthew Dukes, diretor para a América Latina de mercado de capitais de dívidas do Deutsche Bank, um dos líderes da oferta ao lado de Itaú BBA e Santander, as condições iniciais consideravam a emissão de US$ 1,5 bilhão em recursos novos e montante equivalente para a oferta de recompra, com um prêmio de 250 pontos-base sobre a Treasury (título americano) de dez anos. No fim, somente com a demanda de investidores novos, que alcançou US$ 4,3 bilhões, o spread recuou para 235 pontos-base.
O novo bônus denominado em dólar da República, batizado de Global 2028, tem vencimento em 13 de janeiro de 2028 e foi colocado ao preço de 99,603% do valor de face, o que resultou em uma taxa de retorno para o investidor (“yield”) de 4,675% ao ano. O cupom foi fixado em 4,625% ao ano. A liquidação financeira ocorrerá em 13 de outubro de 2017 e os cupons semestrais serão pagos nos dias 13 de janeiro e 13 de julho de cada ano.
Dos US$ 3 bilhões emitidos, US$ 1,5 bilhão refere-se à parcela a ser liquidada mediante pagamento em dinheiro. O montante remanescente, de US$ 1,5 bilhão, será liquidado mediante pagamento em títulos elegíveis. A operação do Tesouro mirou a recompra de títulos externos com vencimentos entre 2019 e 2030. O estoque desses papéis é de US$ 11,8 bilhões. O resultado do leilão de recompra de títulos será divulgado na próxima semana.
Fontes da área econômica consideraram “ótimo” o resultado da operação de emissão de bônus, combinada com gerenciamento de passivo externo. Com os novos bônus, o governo conseguiu aumentar em dois anos o prazo de vencimento do título e ainda conseguiu reduzir o yield para 4,675% anuais. Em março último, o Tesouro pagou 5% na reabertura do Global 2026, o equivalente a 248,40 pontos-base de spread. Em 2016, essa mesma emissão saiu com spread de 419,6 pontos.
Dukes, do Deutsche, considerou “ideais” as condições para a captação realizada pelo Tesouro. O governo conseguiu tirar vantagem da liquidez internacional e aproveitou para promover um ampla troca de papéis caros em circulação. “O sentimento [dos estrangeiros] em relação ao Brasil tem melhorado, particularmente neste ano, com avanço significativa dos fundamentos do país”, afirma. Para o executivo, a nova transação ajuda “a consolidar a curva de yield ao reduzir a dívida de alto custo existente”.
Segundo Dukes, as taxas globais ainda estão em patamares historicamente baixos e, com isso, a demanda por ativos de renda fixa de mercados emergentes, que paga prêmios bem mais elevados que os títulos de economias avançadas, ainda permanece forte.
A janela favorável, no entanto, pode começar a se fechar, de acordo com o diretor do Deutsche, na medida que os Bancos Centrais de países desenvolvidos começarem a drenar os estímulos monetários. O Federal Reserve, o BC americano, por exemplo, vai começar a reduzir seu balanço patrimonial a partir de outubro e sinaliza uma nova alta de Juros em dezembro.
Outro fator de risco, pondera Dukes, é a elevação dos riscos políticos nos mercados emergentes no ano que vem. “A eleição no Brasil, por exemplo, pode ser um grande ponto de interrogação na metade de 2018”, pondera.
A janela de oportunidade para emissões externas já está no radar das empresas brasileiras há meses. Na semana passada, a Petrobras captou US$ 2 bilhões e trocou mais US$ 6,768 bilhões de cinco bônus em circulação por novos papéis, para 2025 e 2028.
A Braskem já contratou bancos e realiza roadshow nesta semana. O volume ainda não está definido. Já o Banco do Brasil pretende levantar pelo menos US$ 750 milhões em papéis de sete ou dez anos. Neste ano, as emissões externas brasileiras já ultrapassam os US$ 23 bilhões.
Fonte: VALOR ECONÔMICO