Ronaldo de Oliveira/CB/D.A Press
A convivência pacífica entre o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, e o ministro Guido Mantega parece estar com os dias contados. O dólar colocou os dois em rota de colisão. Enquanto o chefe da Fazenda está mais preocupado em fortalecer a indústria — com uma desvalorização do real capaz de dar competitividade aos produtos brasileiros no exterior e de reduzir o volume de importações —, para o cabeça da autoridade monetária, é uma questão de honra entregar, neste ano, uma inflação mais baixa que a de 2012. E, para isso, o presidente do BC precisa conter a alta da moeda norte-americana.
Em audiência, ontem, na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal, Tombini foi enfático ao defender as intervenções do BC no câmbio como forma de controlar a carestia. Na semana passada, logo depois de o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) anunciar o adiamento do fim dos estímulos que injetam mensalmente US$ 85 bilhões na economia norte-americana, o ministro Mantega declarou que a autoridade monetária poderia reduzir as operações de intervenção. “Nosso programa é adequado e está funcionando bem”, reiterou Tombini, quando indagado pelo senador Aloisio Nunes (PSDB-SP) sobre a “declaração desastrosa” de Mantega.
“O Banco Central está atuando para assegurar a estabilidade econômica do país. Nossa estratégia é clara. Utilizamos o nosso amplo rol de mecanismos para mitigar o problema da volatilidade excessiva. Desde 22 de agosto, o programa promove, semanalmente, leilões de US$ 2 milhões e vendas com compromisso de recompra de US$ 1 milhão, para dar tranquilidade aos agentes econômicos. O real é um destaque positivo entre as moedas, com valorização de quase 10% desde a implantação do programa de intervenções”, afirmou Tombini, sinalizando que o programa pode ser mantido em 2014. O Ministério da Fazenda ressaltou que, em nenhum momento, Mantega quis interferir nas ações do BC. Tanto que o ministro ressaltou que “cabe à instituição decidir o que fará no mercado de câmbio”.
Pessimismo
Apesar da clara divergência com as declarações do ministro, em alguns aspectos, o discurso do presidente do Banco Central se afinou ao do governo. Tombini destacou que o mercado está mais pessimista do que apontam os números, mas ele ressaltou os bons indicadores: a expansão nos investimentos — de 3,6%, no terceiro trimestre —, a manutenção da taxa de desemprego ainda em níveis baixos e o crédito com expansão em nível sustentável. No Senado, ele disse ainda que a inadimplência está em queda e que a indústria vem melhorando o desempenho, com a redução do principal insumo, a energia elétrica, e com as desonerações da folha de pagamento.
Para Alexandre Tombini, o crescimento do Brasil depende do fortalecimento da confiança das famílias. O presidente do BC admitiu que a inflação, de 6,09% em 12 meses até agosto, ainda se encontra em patamares desconfortáveis, dando sinais de que o ciclo de aperto monetário deve continuar. Porém, ele salientou que a carestia já está em declínio.
Fonte: Correio Braziliense