Empresários e investidores não aceitarão um ministro fraco
Mais do que nomear TOMBINI para a Fazenda, ainda neste ano, em substituição a Guido Mantega, Dilma tem de vir a público e assumir que está delegando ao novo chefe da equipe econômica autonomia total para tomar as decisões que são necessárias a fim de recolocar o Brasil nos eixos. Hoje, independentemente de quem esteja sentado na cadeira suprema da Fazenda, quem define os rumos da política econômica é a presidente da República. Ninguém mais.
É esse o motivo de os donos do dinheiro estarem tão desconfiados em relação ao atual governo. Empresários e investidores listam, um por um, os problemas criados por Dilma, que levaram o país a conviver com inflação no teto da meta, de 6,5%, crescimento medíocre, rombo recorde nas contas externas e dependência cada vez maior de capital especulativo. Nada indica que, com TOMBINI na Fazenda, a presidente permitirá que se façam ajustes que, num primeiro momento, podem levar a economia à recessão.
O próprio TOMBINI ficou com a imagem arranhada ao liderar o processo de baixa dos juros que Dilma tanto queria usar como bandeira política à reeleição. Empenhada em ter a menor taxa Selic da história, a presidente pressionou para que o BC agisse. Os juros caíram a 7,25% em outubro de 2012, mesmo com a inflação apontando para cima. Mas a façanha durou apenas seis meses. Em abril do ano passado, a taxa começou a subir e já atingiu 11% ao ano, nível superior ao que Dilma recebeu de Lula (10,75%), quando tomou posse, em janeiro de 2011.
Ao mostrar sintonia fina com o Palácio do Planalto, a credibilidade do BC foi ao chão. A reputação da autoridade monetária só começou a ser reconstruída quando os juros voltaram a subir. Está, porém, longe de garantir confiança total em TOMBINI. As expectativas de inflação só aumentam, mesmo com o aperto de 3,75 pontos da Selic. Para os agentes econômicos, de nada adianta TOMBINI ostentar um discurso de austeridade no combate à carestia, se Dilma é quem manda na política econômica e as ordens dela são cumpridas à risca, sem qualquer contestação por Mantega.
Na Fazenda, TOMBINI terá que dizer não à chefe. Se não mostrar uma postura firme, assumirá o cargo com a perna manca. Empresários e investidores não aceitarão um ministro fraco. Assim que seu nome for confirmado, será testado de todas as formas pelos mercados. Sua equipe terá competência? Como lidará com o desajuste fiscal? Vai aumentar a meta de superavit primário? Manterá a política de transferência de recursos do Tesouro Nacional para os bancos públicos? Qual regra proporá para o reajuste do salário mínimo? Como lidará com um eventual racionamento de energia?
A eleição presidencial ainda não começou, efetivamente. Mas já que os responsáveis pela campanha de Dilma decidiram dar um sinal aos investidores de que ela está disposta a nomear TOMBINI para a Fazenda, o atual presidente do BC deveria iniciar um processo de convencimento. O país está em uma situação delicada demais para enfrentar novas decepções, caso os eleitores decidam, em outubro próximo, pela reeleição presidencial.
Porta de saída para Arno
» Pelo menos um sinal o presidente do Banco CENTRAL, ALEXANDRE TOMBINI, já emitiu a amigos, caso venha a assumir o comando doMinistério da Fazenda: Arno Augustin será defenestrado da Secretaria do Tesouro Nacional. No BC, não há um só técnico que avalize as manobras contábeis patrocinadas pelo Tesouro, que empurraram o país para uma onda de desconfiança. Ao maquiar as contas públicas, o secretário jogou para o BC toda a responsabilidade do controle da inflação.
Nada de “veja bem”
» De um ministro com bom trânsito no Palácio do Planalto: “TOMBINI é um ótimo nome para a Fazenda. Mas que ele não se renda ao discurso do veja bem. Ninguém aceitará a tese de gradualismo, de que os ajustes necessários na economia, sobretudo na área fiscal, devem ser feito aos poucos”.
Aval de Lula
» A decisão da integrantes da equipe de campanha à reeleição de Dilma Rousseff de testar o nome de TOMBINI para o Ministério da Fazenda, em um eventual segundo mandato, teve o aval do presidente Lula. Na verdade, diz um petista, a presidente da República não está muito em condições de dizer sim ou não. Na maior parte dos casos, a palavra final é de Lula.
Tamanho do buraco
» Não é só a inflação em disparada que está tirando o sono da presidente Dilma Rousseff e exigindo esforço redobrado da equipe econômica para convencê-la de que o pior da carestia ficou para trás. Ela está cobrando relatórios periódicos de técnicos da área de energia sobre a real situação dos reservatórios de hidrelétricas, para ter a exata noção do tamanho do risco que pode assumir ao não decretar o racionamento de energia elétrica.
Fonte: Correio Braziliense