Tombini faz périplo para melhorar imagem do país

    Por Claudia Safatle | De Brasília

    O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, encerrou ontem, em Cingapura, o périplo para melhorar a percepção dos investidores estrangeiros em relação à economia brasileira.

    Nas últimas semanas ele participou de encontros com investidores em Nova Iorque, conversou com as agências de rating, foi a Londres, falou com a “The Economist”, deu entrevista para a “Chattam House”, passou por Lisboa e, esta semana, esteve na Ásia. Com um só objetivo: dissolver o pessimismo com o Brasil que se instalou fora do país, agravado ainda mais com o risco de um rebaixamento pelas agências de rating.

    Ele tem dito aos empresários, tanto internamente quanto no exterior, que eles estão mais pessimistas do que a realidade.

    Ao intensificar a interlocução com o setor privado, Tombini cumpre um papel mais ativo no governo, por recomendação do palácio do Planalto.

    Seu discurso é focado nas condições macroeconômicas do país. Hoje o Brasil só recebe menos investimentos estrangeiros do que a China, Hong Kong e Estados Unidos. A atividade econômica desacelerou, mas ainda assim a taxa de desemprego tem mostrado recordes de baixa, o que mostra que a produtividade está em queda. O governo tem uma agenda pró-crescimento mais amigável ao mercado e ela não trata apenas de consolidar a expansão do consumo, de um processo de crescimento inclusivo, mas de o país se voltar mais para o aumento do investimento e da produtividade total dos fatores da economia.

    Com pleno emprego, mas sem expansão dos investimentos e melhoria da produtividade, o país não conseguirá superar um crescimento anual de 2,5%. A produção total dos fatores que, no período de “boom” das commodities crescia 2,5% ao ano, hoje cresce de 1% para baixo.

    Tanto nas reuniões com investidores privados quanto junto a organismos internacionais, ele tem salientado que não se deve confundir o ajuste de preços relativos nos mercados emergentes com um pessimismo em relação a essas economias.

    O ajuste decorreu da expectativa de normalização da política monetária americana, adiada pelo Federal Reserve (Fed, BC dos EUA), que penalizou o Brasil, a Turquia, a Indonésia, a Índia, o México, mas não significaria um despreparo dessas economias para um novo cenário, de menor liquidez internacional. No caso do Brasil, há um mercado de 40 milhões de consumidores novos, um agronegócios com produtividade elevadíssima e forte demanda reprimida por infra-estrutura.

    Mudanças mínimas na área de infraestrutura e logística, diz o presidente do BC, podem aumentar significativamente o potencial de crescimento do país. A simples duplicação da BR-163 vai reduzir em 4 a 5 dias a chegada da soja e de outras commodities ao porto de Roterdã.

    O cerne das críticas que Tombini tem ouvido, nesses encontros, é em relação ao excesso de intervencionismo e ao viés estatizante do governo Dilma Rousseff, além de muita burocracia para fazer negócios no país.

    Em recente encontro do G-30 (grupo dos 30 países mais ricos), mencionou-se que no Brasil a inflação estaria à beira do descontrole. Tombini argumentou que, ao contrário, o Banco Central garante a estabilidade financeira, monetária e controla a inflação. Embora o IPCA esteja na casa dos 5,7% em doze meses, o preço ao consumidor (IPC) da Fipe já está em 4,4%, abaixo da meta de 4,5%. O IPC da Fipe, porém, não é o índice da meta, mas sua trajetória mostraria que não há descontrole. A política monetária, segundo ele, tem sido vigilante para “mitigar” riscos e contribuir para o controle da inflação, conforme disse ontem para uma plateia de 70 investidores, em Cingapura.

    O BC, no entanto, tem obtido pouco progresso na coordenação das expectativas de inflação, o que torna a desinflação uma tarefa mais custosa. A desancoragem das expectativas decorreriam menos do déficit de credibilidade da autoridade monetária e mais das idiossincrasias que pautaram a gestão da política econômica de 2011 para cá, com a forte deterioração das condições fiscais, o congelamento de alguns preços administrados e dúvidas sobre os futuros repasses do Tesouro Nacional ao BNDES.

    O governo não deu suficiente peso às questões mais intangíveis, relacionadas com a confiança dos empresários e consumidores, às expectativas, ao ambiente de negócios no país. Entendia-se, no palácio do Planalto, que bastava reduzir a taxa de juros, conceder financiamentos subsidiados e desonerar setores da economia, para os empresários decidirem investir em novas plantas, aumentando o potencial de crescimento da economia brasileira.

    O investimento, que estava em franca expansão no primeiro trimestre do ano, não se sustentou e o Produto Interno Bruto (PIB) pode ter sido próximo de zero a ligeiramente negativo no terceiro trimestre, num retrato do baixo grau de confiança do setor privado.

    A frustração gerada pelo modesto crescimento econômico no terceiro ano de governo, a percepção então dominante nos mercados de que o país teria uma expansão abaixo de 2%, e o risco do rebaixamento do “rating” do país levaram o Palácio do Planalto a, em meados deste ano, reavaliar seus métodos.

    Foi no confronto com a realidade – de que juros baixos não resultam necessariamente em expansão dos investimentos privados, que desonerações de impostos não se traduzem em queda de preços e que a desvalorização da taxa de câmbio, por si só, não produz mágicas na indústria – que Tombini tornou-se mais influente no governo.

    Há quem o veja, hoje, como um possível sucessor de Guido Mantega na Fazenda, no eventual segundo mandato de Dilma. Essa, porém, é uma especulação precoce que, em geral, não serve a bons objetivos.

     

    Fonte: Valor Econômico

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