Tombini prepara carta para justificar inflação de 2015

    O presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, já começa a elaborar a carta que tem que mandar ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy, justificando o estouro do teto da meta de inflação em 2015 bem como planos e prazo para fazer o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) convergir para o centro da meta de 4,5%.

    Pelo regime de metas, quando o BC não consegue manter a inflação dentro da banda de tolerância, atualmente fixada em até 6,5%, o presidente da autoridade monetária é obrigado a escrever essa carta. A última vez que tal documento foi escrito foi em 2003, pelo então presidente Henrique Meirelles ao ministro Antonio Palocci. Naquele ano o IPCA fechou em 9,3%, acima da meta ajustada de 8,5%.

    Em café da manhã com jornalistas na quinta-feira, Tombini apontou que o descumprimento da meta agora em 2015, conforme as projeções de mercado apontam para IPCA de 10,6%, decorre do grande ajuste de preços relativos – câmbio, com alta de 30%, e administrados, com 18%. “Não há política monetária que compense, no curto prazo, um choque de custos dessa magnitude”, disse.

    Quanto ao horizonte de atingimento da meta, Tombini lembrou que ele teve de ser alongado de 2016 para 2017 também em função da sucessão e intensidade dos choques no câmbio e preços administrados. “Temos comunicado que nosso horizonte é o seguinte: convergência para 4,5% em 2017 e no ano que vem vamos cumprir os objetivos do regime de metas para inflação”, disse.

    Em relação às medidas que estão sendo e serão adotadas para que a meta seja atingida no horizonte projetado, Tombini disse que “estamos apertando a política monetária” e que esse aperto tem contribuído para conter as expectativas de inflação.

    O presidente apontou que, a despeito das revisões no curto prazo, as projeções estão “de certa forma comportadas”, contemplando grande desinflação em 2016, com o IPCA saindo da linha de 10,6% para 6,8%. E acrescentou: “2016 será um ano de muito trabalho, temos que colocar a economia brasileira nos eixos e do que depender do BC continuaremos atuando de forma autônoma para atender os pressupostos do regime de metas em 2016 e levar a inflação para a meta em 2017”.

    Sobre 2015, Tombini falou que o ano teve “suas complexidades políticas”, as quais certamente tiveram impacto na condução do ajuste macroeconômico. Ele também destacou o “progresso bastante rápido” do setor externo que se traduz em uma redução de cerca de US$ 40 bilhões no déficit em conta corrente em 2015 sobre 2014, e que esse ajuste reflete o atual ciclo de contração da economia e queda do real.

    Para Tombini, a redução de nota soberana, anunciada na quarta-feira pela Fitch, mostra que “temos que fazer nosso dever de casa, completar o ajuste macroeconômico e retomar o crescimento”. Ele apontou que a percepção do mercado já era “subgrau” de investimento e o fato de perder essa classificação não quer dizer que o país possa ficar sem fazer nada ou “tomar opções equivocadas”, pois a percepção pode piorar ainda mais.

    Segundo Tombini, a “lição de casa” passa pela consolidação fiscal e uma métrica fiscal e relação dívida sobre PIB em estabilidade com tendência declinante à frente. Do lado do BC, o presidente disse que a autoridade monetária tem que produzir essa desinflação de 2015 para 2016 e levar a inflação à meta em 2017.

     

    Fonte: Valor Econômico

    Matéria anteriorAutonomia do Congresso está em jogo
    Matéria seguinteCunha na presidência até 2016