‘Top 5’ do BC rende bônus e prestígio

    Por Aline Oyamada | De São Paulo

    Encabeçar o ranking “Top 5” do Banco Central (BC), que reúne mais de 100 participantes com projeções para inflação, juros e câmbio, não é só uma questão de prestígio. Como o ranking é também um dos determinantes da remuneração variável de economistas do mercado financeiro, há relatos de que as contas feitas por alguns deles vão além das conhecidas coletas de preços e modelos econométricos.

    Todos os meses, o BC divulga as cinco instituições do Sistema de Expectativas de Mercado, de cerca de 120, que apresentaram o menor erro nas projeções de IPCA, IGP-M, IGP-DI e taxa de câmbio no curto e no médio prazo. Uma vez ao ano, o BC divulga um ranking de longo prazo. Os rankings para a Selic são divulgados apenas nos meses em que há reunião do Copom.

    Para participar da pesquisa, as instituições, que podem ser financeiras ou não, precisam nomear um economista responsável pelas projeções e receber a aprovação do Banco Central. Diferentes braços de um mesmo conglomerado, como por exemplo corretora, banco e gestora de recursos, participam da pesquisa separadamente.

    A classificação é feita segundo a média dos erros dos analistas em determinado período. Isto é, o BC calcula a diferença entre a projeção do analista e o dado efetivo e faz a média desses desvios nos últimos seis meses para o ranking de curto prazo, e dos últimos 30 meses para o de médio prazo. As cinco instituições com as projeções mensais mais consistentes no período entram para o “Top 5”.

    Sob esse sistema, portanto, não basta errar pouco, é preciso errar menos que a concorrência. É por isso que as técnicas usadas para se chegar à melhor projeção podem, em alguns casos, extrapolar a metodologia estatística convencional. Segundo alguns analistas, não é incomum o economista desviar levemente a sua projeção do consenso do mercado para tentar acertar o dado sozinho. Esse desvio, obviamente, tem por trás a própria análise do economista de qual é o viés do indicador naquele determinado cenário econômico.

    Bruno Surano, que trabalhou no departamento econômico do grandes instituições financeiras, afirma que é mais comum isso ocorrer nas projeções de IPCA. “Querendo ou não, o mercado avalia se você é um bom analista pelo Top 5”, diz ele, que afirma ter entrado no ranking 13 vezes. Surano explica que antes de declarar sua projeção para o mês, muitos analistas levam em consideração seu erro médio nos últimos cinco meses e calculam, aproximadamente, quanto podem errar no próximo mês e ainda assim ficar entre os “Top 5”. Essa é a margem que o analista pode usar caso queira arriscar desviar sua projeção do consenso do mercado. “Você vê que o mercado inteiro está com um número, mas para tentar entrar no Top 5, você põe um número que não concorda tanto”, afirmou.

    Isso não quer dizer que os profissionais declarem projeções com as quais não concordam, afirma o economista-chefe de uma gestora que preferiu não ser identificado. “Se o viés é de alta, a probabilidade do analista de se destacar ao colocar um número mais alto é maior. Mas a projeção do Top 5 é a melhor estimativa de cada analista.”

    Também não há garantia de que o profissional que se vale desses pequenos desvios estatísticos conseguirá liderar um dos rankings. “Todo mundo faz conta. Você pode desviar um pouco [a projeção final] para tomar o risco de entrar [no ranking], mas acho que esse é um desvio que sempre tem por trás a cabeça do analista de qual é a melhor aposta dele”, afirma outro dos participantes do Focus.

    Um economista comenta que em momentos de incerteza e viés de alta para a inflação, pode haver uma tendência de a pesquisa do BC superestimar a expectativa real do mercado. O mesmo vale para quando há um forte viés de baixa. Na sua visão isso ocorreria porque muitas instituições que participam da coleta do BC não possuem um departamento técnico que calcule as próprias projeções, declarando estimativas elaboradas a partir da mediana do mercado. O profissional de um grande banco considera que mesmo aquele que “empresta” a projeção de alguém acredita nela. “A pesquisa retrata perfeitamente a expectativa do mercado”, afirma.

    “A existência dos rankings Top 5 constitui forte incentivo para que os economistas participantes da pesquisa registrem de fato suas melhores projeções, de modo tempestivo”, afirmou o BC por meio de nota.

    Independentemente das variáveis levadas em consideração nas projeções, os analistas estão sempre com os dedos cruzados para chegar o mais perto possível do dado efetivo e, assim, conquistar não só uma boa reputação como profissional, bem como bônus mais polpudos.

    O cálculo da remuneração variável distingue-se entre as instituições, mas em quase todos os casos, o ranking do BC é levado em consideração. “Em alguns casos, você só recebe bônus se estiver entre os Top 5. Em outros, o bônus aumenta de acordo com a quantidade de vezes em que você entrou no ranking”, diz Surano.

    Outro executivo confirma que a remuneração variável da sua instituição depende da classificação. “Aqui, 50% do bônus depende do Focus. O Top 5 é crucial para nós.” Um profissional ressalta ainda que estar no Top 5 ajuda muito na exposição da instituição. “Você fica na mídia e isso ajuda a captar mais recursos”, diz. Além disso, estar no ranking do BC tem enorme peso no currículo dos analistas. “É o único termômetro de mercado para medir o desempenho do analista. Faz diferença”, completa Surano.

    Um dos economistas-chefes consultados afirma que em sua instituição não há uma regra formal entre o ranking e os bônus, mas diz que “estar no Top 5 é sempre uma meta”. (Colaborou Roberta Costa)

     

    Fonte: Valor Econômico

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