Ao antecipar em evento público na semana passada como vê os próximos passos da política monetária, o diretor de assuntos internacionais do Banco Central (BC), Tony Volpon, sinalizou uma mudança na estratégia da autoridade monetária. Essa mudança se baseia num modelo teórico, o “inflation-forecast targeting” (mirar a projeção de inflação na meta, em tradução livre).
Conforme definiu o economista Michael Woodford, do departamento de Economia da Universidade de Columbia, em estudo, esse modelo prevê o seguinte: “Um banco central que pratica um regime de metas para as expectativas de inflação está comprometido a ajustar seu instrumento, ou instrumentos de política, de todas as formas que achar necessário, a fim de assegurar que as projeções quantitativas para o comportamento futuro da economia satisfaçam um critério-alvo específico”. O estudo completo chama-se “The Case for Forecast Targeting as a Monetary Policy Strategy”.
Durante apresentação pública a investidores na segunda-feira da semana passada, Volpon declarou: “Pessoalmente, vou votar para o aumento de juros até que a nossa projeção esteja de maneira satisfatória apontando para o centro da meta”.
A frase não teria sido bem compreendida por alguns setores do mercado financeiro e também gerou ruídos no campo político. Em e-mail enviado ao Valor, por meio da assessoria de imprensa do Banco Central, Volpon esclarece que em nenhum momento houve abertura prévia do seu voto como membro do Comitê de Política Monetária (Copom).
“O que houve foi uma defesa do princípio operacional conhecido como ´mirar a projeção na meta´ [inflation-forecast targeting]. Tal estratégia depolítica monetária, que tem amplo respaldo na literatura acadêmica, defende que um banco central, seguindo o sistema de metas, fixe seu instrumento de política monetária – a taxa Selic, no caso do Banco Central do Brasil – de forma que a projeção da inflação esteja na meta no prazo de convergência escolhido”, disse Volpon.
O diretor apresentou esse esclarecimento depois de tomar conhecimento que o senador José Serra (PSDB-SP) pedirá que o Senado se manifeste sobre a sua declaração. Ao Valor, Serra disse que o diretor “cometeu um grave equívoco ao antecipar publicamente seu voto na próxima reunião do Copom”.
“Esse vazamento deve ser reprovado. Como o Senado é órgão que aprova a nomeação dos diretores do Banco Central e a quem o presidente do BC deve explicações periódicas, depois do recesso pedirei à Comissão de Assuntos Econômicos e ao plenário que se manifestem a esse respeito”, acrescentou Serra.
Para Serra, como os diretores entram na reunião sem qualquer decisão, isso garantiria, pelo menos em tese, que o voto do colegiado fosse técnico. Volpon ponderou que a estratégia do “inflation-forecast targeting” torna a decisão de política monetária não somente técnica, “bem como a impede de ser tomada antes da apresentação das projeções pela área técnica do Banco Central do Brasil, algo que somente ocorre durante a reunião do Copom”.
O senador também disse acreditar que a antecipação de voto por um diretor do BC afeta as cotações do mercado para os contratos futuros de juros. “Ou seja, há um grande potencial de ganho ou perda como consequência. Para os grandes bancos, pode significar valores elevados. Quem pode garantir que um diretor não combinou antes com um amigo?”, questionou o parlamentar.
Volpon lembrou que sua fala foi feita perante um grupo de investidores e na presença da imprensa. “Isso impede qualquer possível assimetria de informação, que poderia beneficiar algum agente de mercado.”
O Banco Central tem dito e repetido que atua para levar a inflação à meta de 4,5% no fim de 2016, mas não apenas isso, ele busca, também, a ancoragem das expectativas em prazos mais longos, como 2017, 2018 e 2019.
Não por acaso foi comemorada e mencionada por membros da autoridade monetária a queda das expectativas de IPCA para 4,5% em 2017. Em 2018 e 2019, as projeções feitas pelos agentes do mercado já estão na meta.
De volta ao artigo de Woodfrod, ao fazer um gerenciamento mais explícito das expectativas de inflação e não apenas o trabalho necessário para levar a inflação à meta no fim do ano calendário, a autoridade monetária também busca uma “curva de Phillips” menos inclinada. A curva de Phillips relaciona inflação e desemprego. O ponto é que quando o Banco Central convence os agentes de mercado, a sociedade e os demais formadores de preços que a inflação sempre retornará rapidamente à tendência estável de longo prazo, menor será o custo – expresso aqui por aumento do desemprego – para trazer a inflação de volta à meta.