
Jornalista Miriam Leitão critica Banco Central do Brasil
O COMENTÁRIO DE MÍRIAM LEITÃO
O BC decidiu ontem intervir no Cruzeiro do Sul.
De terça a sexta-feira da semana passada, as ações do banco caíram 40%, ou seja, já circulava no mercado a informação de que a instituição estava com problemas.
O Cruzeiro do Sul não é um caso isolado. Desde 2008, quando houve a crise, já foram vários: Panamericano, Matone e Schahin foram vendidos a outros bancos com a ajuda e financiamento do Fundo Garantidor de Créditos (FGC). Oboé e Morada foram liquidados. Agora, há a intervenção no Cruzeiro do Sul.
O FGC vai administrar temporariamente o banco para organizar as contas.
O BC precisa aumentar a fiscalização, a prevenção, para que esses casos não se repitam.
O do Cruzeiro do Sul é igual ao do Panamericano. Há indícios de fraude. Os bancos inventaram valores que tinham a receber, mas esse dinheiro, na verdade, não existe. Mesmo assim, o BC tem esperança de que a instituição seja saneada e consiga ser vendida.
Há um problema: o FGC tem sido desviado da sua função. Vem resgatando banco, dado empréstimo para a compra de instituições com dificuldades, e agora, administrará o Cruzeiro do Sul.
Quando foi criado, em 1995, no entanto, ele tinha um único objetivo: garantir os depósitos dos clientes.
RESPOSTA DO SINAL-DF
Prezada Mirian Leitão,
O Sindicato dos Funcionários do Banco Central – Sinal – tem alertado insistentemente a administração do Banco Central e o Ministério do Planejamento para o desmonte silencioso da instituição.
As aposentadorias dos últimos anos têm reduzido significativamente o quadro funcional do Banco Central. Por lei, a instituição pode contratar pouco mais de 5 mil analistas, mas hoje conta com um efetivo de cerca de 3,5 mil.
Desde a crise de 2008, os bancos centrais no mundo têm aumentado seu efetivo, enquanto no Brasil tem reduzido. De 2010 para 2011, o quadro funcional do Banco Central do Brasil caiu 5,7%, enquanto cresceu 4% na Europa, 3% nos EUA e 3,4% na África do Sul. Desde 2008 o efetivo do Banco Central do Brasil caiu 10,4%. Na área de fiscalização, a redução de efetivo se aproxima de 20%. O Brasil é dos países que têm menor número de servidores por 100 mil habitantes: 12,5 na Europa, 5,8 nos EUA, 4,3 na África do Sul e 2,3 no Brasil.
Desde 2004, houve um aumento das atividades supervisionadas e reguladas pela instituição. As operações de crédito, por exemplo, passaram de 25% para cerca de 50% do PIB.
O Banco Central tem concurso válido até junho e poderia minimizar essa redução convocando número significativo de aprovados. Mas não há interesse do governo nisso.
Esse desmonte não se observa em outras áreas do setor público. No mesmo período, o número de servidores de outras carreiras cresceu significativamente, como as carreiras de gestão, que aumentaram em cerca de 8% o seu efetivo, as de delegados e peritos da PF, 7% e as carreiras jurídicas 4%.
O grande número de aposentadorias esperadas para os próximos anos deve agravar a redução do quadro funcional do Banco Central. Essa situação acarreta um latente despreparo para lidar preventivamente com problemas tanto no sistema financeiro, como na administração de liquidez da economia. A quem interessa isso?
José Ricardo da Costa e Silva
Presidente Conselho Regional do Sinal- DF