Sinal-DF Informa de 03 setembro de 2013
“A partir de sexta-feira vocês estão dispensados”. Foi assim que na última quarta-feira do mês jornalistas e estagiários da comunicação tomaram conhecimento do mais irracional corte já produzido em uma administração do Partido dos Trabalhadores. Melhor sorte tiveram os mensageiros, pois houve reação contra a dispensa de jovens adolescentes de baixa renda em sua primeira experiência profissional, que adiou as demissões. Setembro começou com servidores e chefias buscando reverter cortes açodados que, comenta-se, iam desde modens 3G nas fiscalizações in situ a ligações internacionais nas áreas de operações internacionais – nesse sentido, o feriado da última segunda-feira nos EUA nos ajudou.
Enquanto servidores perguntam as razões para tamanha falta de bom senso e de diálogo, proliferam boatos de que a diretoria viaja apenas na Classe Executiva e de que, na falta dessa, na Primeira Classe. Chegou a circular entre os funcionários a informação de que há diretores que reservam duas passagens para a mesma data (por exemplo, uma às 20h00 e outra às 23h00), pois “poderia ocorrer alguma reunião de última hora no dia da partida”, ainda que uma passagem sempre seja cancelada. A falta de diálogo interno e de notícias de corte em outros órgãos públicos federais forneceu terreno fértil à disseminação dessas ilações e de dúvidas quanto à continuidade do atendimento ao público, via 0800.
Colabora, em muito, com a deterioração do clima organizacional, a forma como o comunicado foi feito: sem contato pessoal, sem reunião no auditório, sem reunião de chefes com suas equipes. Apenas um frio e-mail institucional e algumas conversas entre chefes e comissionados mais próximos. Nesse contexto, caso alguém se lembre do Comitê de Qualidade de Vida no Trabalho, descobrirá que a única providência da comissão de QVT foi adiar por um mês a reunião prevista para 3 de setembro.
Em outros órgãos não se tem notícia de corte tão profundo, nem tão danoso ao serviço prestado à população e à segurança institucional, ou que eliminasse número tão significativo de colaboradores externos. Na imprensa, apenas cortes no BC são divulgados, abrindo um leque para especulações: seria o Banco Central mais realista que o Rei? Estaria o Banco Central pagando algum preço político? De positivo, talvez, o ressurgimento do debate sobre a autonomia operacional, administrativa e financeira.
Enquanto isso, perguntas ficam em aberto: Como gerenciar expectativas sem ler notícias? Como acompanhar os processos legislativos sem ler os blogs dos bastidores da política? Como, após tantos esforços de tecnologia da informação e de governança corporativa, manter a segurança operacional sem poder resolver ocorrências usando o telefone?
A resposta parecer ser a de que o Banco Central adentrou, sem resistir, em terreno de maiores riscos operacionais, legais e de imagem.
O Banco Central se assemelha a vários órgãos geridos por indicados políticos ao não apresentar, nem possuir, gerenciamento de custos que forneça o mínimo: priorização orçamentária, ou seja, o que cortar primeiro e por que. Quando houver ajuste no futuro, mostraremos o mesmo despreparo?
A dizer não para a irracionalidade que veio do Governo, preferiu dizer não a si mesmo, a sua relevância e à criticidade de suas operações diárias. Preferiu não dizer ao Governo quanto de seu “nível de entrega” seria reduzido, comprometido ou colocado em risco. Preferiu não compartilhar com seus servidores a contribuição da própria diretoria para a necessidade de ajuste apresentada. Preferiu não dizer à sociedade, por exemplo, quantas ações de fiscalização direta deixariam de ser realizadas ou quantas pessoas seriam colocadas na rua, desempregadas e sem perspectiva.
O Banco Central preferiu não discutir quanto de economia representaria uma jornada concentrada de 7 horas diárias com 1 hora de home-office – afinal, ao menos em nossos lares, podemos acessar as notícias essenciais ao nosso trabalho e, até mesmo, realizar as atividades de capacitação, também eliminadas até segunda ordem.
Se não apresentou as consequências do corte, aparentemente não se deu ao trabalho de perguntar as consequências de não cumpri-lo, ou de fazê-lo parcialmente, conforme os números que apontou. Quando o Presidente do Banco Central afirma “as ações prioritárias precisam ser preservadas, temos que ter uma blindagem financeira para esses projetos”, deveria dizer, por exemplo, quanto custará neste trimestre de forte ajuste fiscal, em virtude dos eventos e viagens, a Presidência do FSB – Comitê de Estabilidade Financeira das Américas.
Embora não restem dúvidas quanto à incoerência política e à irracionalidade das determinações do Governo, sobram incertezas sobre a capacidade da Casa de defender-se, valorizar-se e, sobretudo, cumprir seus compromissos e sua missão.
Participe da Assembleia nesta quarta-feira 4/set/13 às 14h00 no 2º SS
Sinal – Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central
Seção Regional Brasília