Índice do BC reforça cenário de revisões para cima do PIB do ano

    A economia brasileira completou o terceiro trimestre consecutivo de crescimento pela métrica do Banco Central, algo que não ocorria desde 2013. Com avanço de 0,40% em setembro, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) fechou o terceiro trimestre do ano com alta de 0,58%, vindo de variações positivas de 0,39% no segundo e 1,1% no primeiro, na série com ajuste sazonal.

    O número reforça um cenário de retomada cíclica da economia que, segundo analistas, pode apresentar alguma surpresa positiva no fim do ano. A estimativa média de 13 Instituições Financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data aponta para um crescimento do PIB de 0,84% em 2016, cinco delas com viés de alta. A projeção está acima dos 0,73% calculados em média pelos analistas ouvidos no Boletim Focus do Banco Central (BC), também divulgado ontem.

    Longe do setor privado, o clima também é de otimismo. Oficialmente, a projeção do Ministério da Fazenda é de crescimento de 0,7% do PIB em 2017. Nos bastidores a expectativa da área econômica do governo é de alta próxima de 1%. O BC, por sua vez, tem estimativa mais conservadora, de alta de 0,5% do PIB, com uma retomada gradual da atividade econômica.

    “Os resultados do terceiro trimestre estão vindo melhor do que se imaginava, refletindo a volta da confiança de quem está empregado”, diz Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, que recentemente revisou sua projeção de crescimento do PIB deste ano, de 0,7% para 0,9%. Entre os setores que estão surpreendendo positivamente, segundo ele, está o automobilístico.

    Nos cálculos de Luiz Fernando Castelli, economista da GO Associados, o IBC-Br de setembro deixa carregamento estatístico de 1% para 2016. Isso significa que, se permanecer durante o quarto trimestre no mesmo patamar de setembro, o indicador terá crescido 1% neste ano em relação ao ano passado. Já para o quarto trimestre o carregamento estatístico é de 0,14%. Para Castelli, o resultado divulgado ontem aponta para uma “recuperação cíclica da economia, ainda que não homogênea e volátil no curto prazo”.

    Na média móvel trimestral, o indicador utilizado para captar tendência, o IBC-Br cresceu 0,15% em setembro, após avanço de 0,19% em agosto. Segundo Castelli, esses números representam com maior fidelidade a retomada econômica.

    O economista calcula que o PIB terá expansão de 0,2% no terceiro trimestre e de 0,5% no quarto. Para 2017, a projeção é de 0,7%, com viés de alta. Por enquanto, os indicadores antecedentes da atividade de outubro, segundo ele, apresentam “sinais mistos, mas que não invalidam de maneira alguma o cenário de recuperação da atividade”.

    Nos cálculos já dessazonalizados pela GO, a produção de veículos teve queda em relação a setembro (-2,5%), assim como a venda e o fluxo também de veículos (-0,7% para ambos) e a confiança da indústria (-2,6%). Por outro lado, a capacidade instalada da indústria teve alta (de 73,9% para 74,3%), assim como a atividade do comércio medida pela Serasa Experian (crescimento de 0,8%).

    De acordo com Castelli, “atividades mais sensíveis à melhora da confiança e à queda dos Juros” têm apresentado desempenho melhor. A produção de bens duráveis e de bens de capital pela indústria e a venda de eletrodomésticos e vestuário pelo comércio são alguns exemplos. Por outro lado, os serviços, “que têm maior dependência da renda”, ainda apresentam desempenho ruim.

    Essa demora na recuperação dos serviços, segundo Vale, da MB, pode ser explicada pela defasagem do setor em relação aos demais. Ele lembra que os serviços passaram a presentar contração somente um ano depois da indústria. “No acumulado de 12 meses, só agora a indústria voltou para o terreno positivo. Então nada mais natural que os números positivos dos serviços voltem a apresentar resultados positivos apenas no ano que vem.”

    No ano, a variação do IBC-Br com ajuste sazonal é positiva em 0,61%. Nos 12 meses encerrados em setembro, ainda há retração, de 0,42%, sempre com ajuste sazonal. Em comparação com setembro de 2016 o índice tem alta de 2%. O comportamento do indicador em setembro foi influenciado pela alta de 0,2% da indústria, aumento de 0,5% do varejo e recuo de 0,3% dos serviços.

    Embora seja conhecido como “PIB do BC”, o IBC-Br tem metodologia de cálculo distinta das contas nacionais calculadas pelo IBGE. O indicador do BC leva em conta a trajetória das variáveis consideradas como bons indicadores para o desempenho dos setores da economia (agropecuária, indústria e serviços). A estimativa do IBC-Br incorpora a produção estimada para os três setores acrescida dos impostos sobre produtos. O PIBcalculado pelo IBGE, por sua vez, é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país durante certo período.

    Em relatório, Alberto Ramos, diretor do departamento de pesquisas econômicas para a América Latina do Goldman Sachs, diz que a atividade econômica “atingiu um ponto de inflexão no primeiro trimestre deste ano”. Os fatores que sustentam a retomada cíclica, segundo ele, são: queda da inflação, que tem levado a aumentos reais de salários; condições gradualmente menos rigorosas de concessão de crédito, como a queda das taxas de Juros; avanço na desalavancagem das famílias; uma gradual retomada dos investimentos privados, apoiada em parte por “ambicioso” programa de privatizações e concessões de obras de infraestrutura; melhora na confiança e nas condições financeiras.

    O economista destaca, entretanto, que os desafio fiscais tanto para o governo federal quanto para os Estados continuam e que a resolução desse problema “é essencial” para consolidar a melhora na confiança de consumidores e empresários. Ele espera alta de 0,9% do PIB neste ano.

    Fonte: VALOR ECONÔMICO

    Matéria anteriorBC vai acabar com repasse de lucro ao Tesouro
    Matéria seguintePrevidência – Novo texto foca corte de privilégios