A tendência de queda do dólar abre espaço para o Banco Central (BC) diminuir sua exposição no Câmbio. Com a cena política mais amena, o exterior favorável a emergentes e a consequente valorização do real, a autoridade monetária teria mais liberdade para decidir sobre o que fazer com os contratos de Swap cambial, usados para prover liquidez e proteção aos investidores.
No começo de outubro, está previsto o vencimento de cerca de US$ 9,975 bilhões em contratos de Swapcambial, sendo este o maior lote mensal até o momento em 2017. Desde o lote de maio, a autoridade monetária tem mantido a liquidez no mercado ao postergar todos os vencimentos.
“Em função do momento positivo e do patamar do dólar, o BC tem espaço para fazer uma rolagem parcial”, diz o profissional de tesouraria de um grande banco. A expectativa dele é a de que o BC deixe vencer até um quarto do total previsto para outubro. “Se for mais agressivo e fizer uma rolagem menor, a cotação deve subir momentaneamente”, acrescenta.
A alternativa mais ousada seria liquidar todo o vencimento do mês que vem, algo que não acontece desde o ano passado. Neste caso, seria diminuído em um terço o estoque total de Swap cambial do Banco Central, hoje em US$ 27,768 bilhões.
Para o diretor da Wagner Investimentos, José Faria Junior, este caminho tem grandes chances de ser adotado. “Pode gerar uma distorção no mercado de cupom cambial e de Câmbio nos últimos dois dias úteis do mês.” Isso porque o volume é “bem significativo”, afirma. Mas o movimento deve ser pontual. O dólar “pode ter um pico em torno de R$ 3,12, talvez um pouco mais, mas somente neste curto período”, acrescenta.
A leitura no mercado é a de que a tendência de queda da moeda americana dá uma maior liberdade de decisão para o BC.
O UBS é uma das instituições que já revisou para baixo as projeções para o dólar. Daqui a três meses, a instituição vê a moeda sendo negociada a R$ 3,10, caindo para R$ 3,00 em seis meses e a R$ 2,90 em um ano. A instituição apoia a mudança em diversos fatores, locais e externos. Por aqui, os indicadores de atividade apontam para “uma retomada sólida da economia brasileira, maior estímulo por parte do Banco Central e potenciais surpresas no processo de reformas”.
O cenário do banco não inclui a aprovação de um novo modelo de Previdência. Por outro lado, os desdobramentos do caso JBS, como a prisão do empresário Joesley Batista, instigam alguma esperança no mercado.
“O mercado ainda está reticente com essa reforma, mas depois dos últimos acontecimentos passou a contar com alguma probabilidade”, afirma o sócio da Rosenberg Investimentos Marcos Mollica.
Ontem, o dólar chegou a cair até R$ 3,0791, menor nível numa sessão desde 21 de março, quando tocou R$ 3,0603. No fim do dia, entretanto, o Câmbio doméstico sucumbiu à pressão externa e à alta quase generalizada do dólar. Por aqui, a moeda americana marcava no fim do pregão alta de 0,30%, cotada a R$ 3,1037, após sete sessões consecutivas de queda.
O avanço também respingou nos contratos futuros de Juros, negociados na B3. O DI com prazo em janeiro de 2021 subiu para 8,970% no fim da sessão regular, ante a taxa de 8,910% no ajuste do dia anterior, interrompendo assim uma sequência de quatro baixas seguidas.
Hoje, a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) deve ajudar os investidores a calibrarem suas apostas para a Selic. A leitura no mercado é que o ritmo de cortes de Juros deve desacelerar, mas ainda há espaço para queda. Isso porque o Copom informou na semana passada que “vê, neste momento, como adequada uma redução moderada na magnitude de flexibilização monetária”. Na ocasião, foi anunciado o corte da meta Selic em 1 ponto percentual, a 8,25% ao ano. Além disso, o comitê disse que “antevê encerramento gradual do ciclo”.
Por ora, os Juros futuros apontam 84% de chance de uma baixa de 0,75 ponto percentual da taxa básica em outubro. O mercado reflete ainda a queda da taxa básica para 7% a 7,25% neste ano.
Fonte: VALOR ECONÔMICO