Bradesco corta custo para compensar crédito fraco

    Talita Moreira e Vinícius Pinheiro | De São Paulo

    Com o crédito ainda retraído e Juros em trajetória de queda, o Bradesco procurou reforçar a estratégia de corte de custos para compensar as receitas sob pressão. A estratégia foi tentar antecipar os ganhos de sinergia da aquisição do HSBC Brasil pelo lado das despesas.

    O banco fechou um total de 223 agências no trimestre, reduzindo a rede para 4.845 unidades no fim de setembro. Logo depois de incorporar o HSBC, em julho do ano passado, o banco chegou a ter 5.337 agências. “Os ajustes continuarão a ocorrer para ajustar a estrutura à necessidade dos clientes”, afirmou Alexandre Glüher, vice-presidente responsável pelas áreas de relações com investidores e gestão de riscos do banco.

    O Bradesco já havia anunciado em julho o primeiro programa de demissão voluntária (PDV) de sua história, que contou com 7,4 mil adesões e deve resultar em uma economia anual de R$ 1,5 bilhão. O custo do plano, líquido de impostos, foi de R$ 1,2 bilhão e pesou no lucro contábil do banco, que caiu 10,9% em relação ao terceiro trimestre do ano passado, para R$ 2,884 bilhões. Descontado o efeito do PDV, o lucro ajustado do Bradesco aumentou 7,8%, para R$ 4,810 bilhões – levemente acima do esperado por analistas.

    Como resultado do trabalho de corte de custos, as despesas administrativas e de pessoal encolheram 3,9% em relação ao terceiro trimestre de 2016, para R$ 9,863 bilhões. O banco projeta para este ano uma redução de até 4% nos gastos operacionais. Glüher afirmou que o banco está estrategicamente posicionado para capturar a melhora em curso na economia a partir de 2018. “Mantivemos a presença geográfica, apesar do enxugamento na rede.”

    Do lado das receitas, o ambiente econômico tem dificultado o trabalho do banco de obter um volume maior de ganhos dos antigos clientes do HSBC, segundo Carlos Firetti, diretor de relações com o mercado do Bradesco. Ele destacou, contudo, o aumento na originação de negócios com os clientes do banco adquirido, que hoje estão próximos aos do Bradesco. Em relatório a clientes, analistas do Goldman Sachs afirmaram que os efeitos positivos da aquisição começam a aparecer nos números e devem dar sustentação ao lucro do Bradesco nos próximos meses.

    Enquanto arruma a casa no lado das despesas, o banco ainda tem um desafio pela frente no crédito. A carteira expandida fechou setembro em R$ 486,864 bilhões, o que representa queda de 1,4% em relação a junho e de 6,7% na comparação com setembro do ano passado.

    O fraco desempenho do crédito pressionou a margem financeira do banco, que recuou 13,7% em relação ao mesmo período do ano passado. Pesou sobre o resultado uma nova baixa (“impairment”) de créditos concedidos a grandes empresas via títulos de dívida, no valor de R$ 934 milhões. Apesar da queda, o Bradesco manteve as projeções para o ano. O banco espera terminar 2017 com uma redução de 1% a 5% no saldo da carteira e na margem financeira de Juros.

    Um dos destaques do balanço do banco foi a redução nas despesas de provisão contra calotes, segundo os analistas. A chamada PDD somou R$ 3,8 bilhões, queda de 33,4% em relação ao terceiro trimestre do ano passado. “As provisões foram significativamente melhores do que o esperado”, escreveu o Deutsche Bank, em relatório.

    O índice de inadimplência manteve a tendência de queda iniciada no trimestre anterior e encerrou setembro em 4,77%, ante 4,94% em junho e 5,4% há 12 meses. Entre as grandes empresas, o índice voltou a subir, mas Firetti afirmou que o ciclo de alta da inadimplência no segmento está perto do fim.

    Questionado sobre o desempenho do crédito no ano que vem, o diretor disse ser possível um crescimento de 5% do mercado, dentro das projeções feitas pelo departamento econômico do Bradesco. A retomada dos financiamentos, junto com a redução nas despesas com provisão, devem ajudar a compensar o efeito negativo da queda da Selic para o banco, segundo o executivo. (Colaborou Álvaro Campos)

    Fonte: Valor Econômico

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