Os bancos pararam de baixar as taxas de Juros do Cheque especial, em um momento em que o Banco Central (BC) discute com o setor formas de reduzir os custos excessivos dessa linha de crédito. De forma geral, financiamentos como um todo concedidos pelo sistema financeiro ficaram mais caros em janeiro, em parte devido a fatores sazonais, que obscureceram os efeitos do corte da taxa Selic aos menores percentuais em pelo menos três décadas.
Um destaque negativo é a alta, pelo segundo mês consecutivo, dos encargos do Crédito rotativo regular dos cartões de crédito, que inclui os clientes que cumprem a sua obrigação de pagar os valores mínimos das faturas. Esse é um sinal de que podem ter se esgotado os efeitos das medidas adotadas pelo governo no começo de 2017 para reduzir os Juros nesse segmento de crédito.
Estatísticas do crédito bancário divulgadas nesta terça-feira pelo BC mostram uma alta de 0,7 ponto percentual nos Juros médios cobrados nos empréstimos bancários, que passaram de 25,6% ao ano em dezembro para 26,3% ao ano em janeiro. A alta foi um pouco mais pronunciada no crédito livre, cujas taxas médias passaram de 40,3% ao ano para 41,1% ao ano.
Empresas e pessoas físicas pagaram mais caro nos financiamentos a despeito de o Banco Central (BC) ter cortado os Juros básicos a 7% ao ano em dezembro, o menor percentual observado em mais de 30 anos (em fevereiro, a taxa caiu de novo, para os atuais 6,75% ao ano). A Selic é uma referência para os custos de captação dos bancos e, num mercado plenamente competitivo, suas reduções devem ser repassadas para os clientes.
O chefe do Departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha, explicou que os Juros não caíram devido a fatores sazonais. Normalmente, os Juros caem em dezembro, quando os trabalhadores usam o 13º salário para quitar dívidas mais caras com cartões e Cheque especial, e sobem em janeiro, quando voltam a se endividar nessas mesmas linhas. Além disso, empresas quitam em janeiro linhas de capital de giro mais baratas que haviam sido tomadas em dezembro para honrar compromissos de fim de ano.
Olhando num período mais longo de tempo, argumenta Rocha, fica mais claro que os bancos estão repassando o corte da Selic aos clientes. Os Juros médios caíram 11,7 pontos percentuais no crédito livre desde janeiro do ano passado. “As taxas de Juros têm se reduzido, em períodos mais longos, e tendem a seguir a política monetária”, disse Rocha.
No caso do Cheque especial, porém, as taxas têm se mantido estáveis em patamares relativamente mais altos há quase meio ano. Os Juros médios dessas operações vinham oscilando em torno de 323% ao ano desde setembro e, em janeiro, tiveram um impulso, para 324,7% ao ano.
O juro do Cheque especial oscilava em torno de 150% ao ano no começo da década, mas deu um salto a partir de 2013, quando o Banco Central começou a apertar os Juros básicos até levá-los a um pico de 14,25% ao ano em 2015. Com os resultados fragilizados, os bancos públicos começaram a reverter a partir de 2014 a política de Juros baixos adotada no primeiro mandato da presidente Dilma.
Com o controle da inflação, a autoridade monetária cortou a taxa básica em 7,25 pontos percentuais de outubro de 2016 a dezembro de 2017, de 14,25% ao ano para 7% ao ano. Mas o juro médio do Cheque especial foi reduzido em apenas 3,6 pontos desde então.
O Banco Central e a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) estão examinando formas para reduzir os custos excessivos no Cheque especial. A aposta inicial da autoridade monetária era mostrar à população, por meio de iniciativas de educação financeira, que o Cheque especial deve ser usado apenas em situações emergenciais, por prazos muito curtos de tempo.
Entretanto, o nível de endividamento nessa linha se mantém alto. As concessões de crédito no Cheque especial totalizaram R$ 30,985 bilhões em janeiro, e o saldo dessas carteiras somava R$ 24,383 bilhões no último dia do mês. O BC quer que os bancos costurem um mecanismo de autorregulação para limitar os custos incorridos pelos clientes nessas linhas.
No caso do cartão de crédito, em abril do ano passado entrou em vigor uma nova regulamentação. O princípio é que o cliente só fique pendurado nos altos Juros do rotativo do cartão por um mês. Após esse período, o cliente seria convidado a quitar a dívida ou migrar para um refinanciamento no crédito parcelado.
A medida teve um forte efeito na sua adoção, derrubando os Juros do Crédito rotativo para quem faz o pagamento mínimo da fatura. As taxas, que estavam em 431,7% ao ano em março, chegaram a uma mínima de 221,4% em agosto. Desde então, o processo de queda da taxa tem mostrado sinais de esgotamento.
De novembro para dezembro, a taxa média subiu de 218,3% ao ano para 233,9%; em janeiro, deu um novo salto, para 241% ao ano. Em parte, essa alta reflete o aumento do juro feita por alguns bancos menores, que afetou a taxa média.
Os Juros do crédito parcelado do cartão de crédito também tiveram altas nos últimos sete dados mensais. Passaram de 157,9% em junho para 171,5% ao ano em janeiro. O custo médio do crédito parcelado para os clientes de cartão de crédito é 48,7 pontos percentuais mais alto do que o crédito pessoal, que está em 122,6% ao ano. Isso significa que vale mais a pena o cliente tomar um empréstimo pessoal para quitar a dívida do cartão do que aceitar as ofertas de parcelamento feitas nas faturas. Os bancos cobram mais caro no parcelado apesar de que, nessa modalidade, a taxa de inadimplência é de 1,9%, bem menor do que os 7,6% observados no crédito pessoal.
Em janeiro, o volume de crédito do sistema bancário recuou 0,8%, devido sobretudo à quitação sazonal de dívidas por empresas que ocorre neste mês. O volume de crédito na economia chega a R$ 3,066 trilhões, cifra que equivale a 46,6% do Produto Interno Bruto (PIB). O crédito a pessoas físicas cresceu 0,5%, enquanto que o crédito a empresas encolheu 2,3% no mês. A inadimplência subiu levemente, de 3,2% em dezembro para 3,4% em janeiro, revertendo o efeito positivo de pagamento de dívidas com recursos do 13º que tradicionalmente ocorre no fim do ano.
Fonte: VALOR ECONÔMICO