Antes mesmo do encerramento do ciclo de alívio monetário, a sustentabilidade dos Juros em níveis historicamente baixos já é motivo para discussão. Sinal das incertezas que permeiam o cenário, os economistas que mais acertam as projeções – os chamados Top 5 – no médio prazo projetam uma elevação de Juros mais dura que os demais analistas.
A mediana das estimativas aponta para uma Selic em 9% já no fim do ano que vem. O nível esperado pelo grupo representa 1 ponto percentual acima das expectativas gerais coletadas pelo Boletim Focus, de 8%. Tudo vai depender do resultado da eleição e da evolução da agenda de reformas, além do esperado processo de normalização da inflação na direção da meta.
As taxas projetadas pelos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) se aproximam da hipótese de Selic mais alta. O mercado coloca nos preços o juro básico perto de 9,35% no fim do ano que vem. No entanto, esse nível tem sido reduzido, aos poucos, conforme os investidores acompanham os sinais de inflação controlada e recuperação ainda gradual da atividade. Ontem, a taxa do DI para janeiro de 2020 terminou o dia em 7,280%, em leve queda ante o ajuste anterior.
O equilíbrio de Juros baixos e inflação contida tende a ser pressionado ao longo do ano que vem quando já se espera o início de uma normalização das condições monetárias. E, no meio do caminho, vem a corrida presidencial de 2018, fator que gera cenários distintos mesmo entre os especialistas que esperam a continuidade da atual direção da política econômica.
O economista Juan Jensen, sócio da 4E, é um dos especialistas que aposta numa posição mais dura do Banco Central no ano que vem. Integrante do Top 5, a leitura na consultoria é que a taxa Selic tende a subir para 9%, num movimento que começará no primeiro trimestre de 2019. “A nossa visão é que o Banco Central vai ter de apertar mais forte a política monetária porque o mercado de crédito vai ser destravado com a redução da incerteza eleitoral”, diz Jensen.
Atualmente, o canal de transmissão da política monetária estaria “um pouco entupido”. Ou seja, o efeito da queda do Juros acaba sendo limitado pelo fato de que o “spread” das taxas cobradas no mercado ainda está muito elevado. Passada a eleição, com a chegada de um governo reformista, o canal de transmissão dos Jurostende a ficar mais livre. “Com isso, o Banco Central terá de atuar no lado oposto”, afirma Jensen.
Analistas avaliam também que o resultado eleitoral pode ter outros efeitos importantes para a política monetária: a apreciação cambial e a expectativa de queda do juro neutro – aquele que garante maior expansão da economia sem inflação – por causa de um possível ajuste fiscal. Esses são os principais argumentos de quem espera maior estabilidade da Selic ao longo do 2019.
Também integrante do Top 5 para Selic, o banco Fibra está entre as instituições que não trabalham com uma alta muito intensa da taxa no próximo ano. Para o economista-chefe da instituição, Cristiano Oliveira, está “muito longe” de acontecer um processo de alta de Juros no Brasil. O economista aponta que boa parte da trajetória da Selic – que iniciou o atual ciclo em 14,25% – é estrutural. “A maior parte (do movimento) veio para ficar”, diz o especialista. E por causa das reformas microeconômicas já aplicadas, a leitura é de que “a taxa de Juros neutra está mais baixa, mas tem chance de ser ainda menor”, acrescenta Oliveira.
Para Sergio Goldenstein, sócio da Flag Asset, o cenário de Juros para 2019 dependerá muito do resultado eleitoral. E dentre os riscos que rondam o ano que vem, estaria ainda uma recuperação mais forte da atividade econômica que levasse a um fechamento mais rápido do hiato do produto.
Até por isso, o ex-chefe do Departamento de Operações de Mercado Aberto do BC acredita que não há mais benefício em quedas adicionais da taxa Selic para além de 6,5%. Para Goldenstein, terminar o ciclo atual com corte de 0,25 ponto em março contribuiria para postergar ou mesmo evitar um eventual movimento de alta da Selic no próximo ano. Com isso, também reduziria a chamada inclinação da curva, isto é, a diferença entre os Juros longos e curtos. “Isso representaria um importante sinal de perenidade da taxa Selic num patamar baixo”, diz.
Fonte: VALOR ECONÔMICO