Um dos temas mais polêmicos entre as mudanças que estão sendo estudadas na indústria de cartões, as alterações no chamado parcelado sem Juros na função crédito, deve ficar para 2019. Em meio às resistências dos consumidores e receios dos lojistas, um acordo para oferecer uma alternativa a esse tipo de operação ainda deve levar algum tempo.
O diretor da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), Fernando Chacon, afirmou que a ideia é dar um tempo para as credenciadoras e lojistas se prepararem para oferecer a opção de um parcelado com Juros – espécie de crediário – com a mesma experiência dos demais pagamentos. Durante o Congresso de Meios Eletrônicos de Pagamentos, realizado ontem em São Paulo, ele reforçou que não haverá uma substituição do parcelado sem Juros e sim uma nova opção para os compradores, que terão a possibilidade de dividir em mais parcelas.
O plano é que os Juros pagos pelo consumidor nessa opção sejam usados para repassar o pagamento aos lojistas de maneira mais rápida do que é feito atualmente, em que os empresários recebem em até 30 dias após a venda. “Está previsto para 2019, porque existe toda uma agenda de preparação do parque instalado para conseguir o mesmo padrão de experiência em todos os adquirentes”, afirmou, lembrando que o parcelado sem Juros representa 58% das transações com cartão de crédito.
As partes discutem mudanças nessa modalidade de pagamento de maneira a se aproximar das práticas internacionais e também como forma de reduzir o volume de moeda em circulação.
O presidente da Abecs também falou sobre eventuais mudanças nas faturas do cartão de crédito, que estão sendo estudadas em conjunto com o Banco Central. Ele afirmou que a ideia, a princípio, é ouvir os clientes e descobrir a melhor maneira de apresentar todos os dados presentes naquele documento. “Temos muita instrução por lei que restringe fazermos uma melhor comunicação para o cliente”, afirmou.
No evento ainda foram apresentados alguns números do setor. O valor movimentado pelos cartões de crédito em 2017 cresceu 12,4% em relação ao ano anterior, atingindo R$ 842,6 bilhões. Os cartões de débito tiveram alta de 12,6% e atingiram R$ 508 bilhões. Já os cartões pré-pagos movimentaram R$ 6,6 bilhões, com expansão de 68,8%. As compras não presenciais, feitas tanto pelo computador quanto por meio de aplicativos, movimentaram R$ 167,6 bilhões, um aumento de 16,5%.
Segundo Chacon, existem oportunidades para o cartão de crédito ser usado como uma forma de financiamento no Brasil. Ele aponta que em 2017 a inadimplência nesse instrumento foi de 6%, sendo 5,2% para pessoa física.
Chacon destacou os efeitos da mudança nas regras do rotativo, cuja taxa de Juros saiu de mais de 400% para 207,1%. “É uma redução muito relevante”. Segundo Chacon, após essa alteração, cinco de cada 100 consumidores do cartão de crédito entram no rotativo, de acordo com os dados da Abecs.
O executivo também comentou sobre a taxa de desconto (MDR) que é cobrada dos lojistas para o pagamento via cartão, que vem caindo e pode incentivar ainda mais o uso desses instrumentos. A média da MDR nos cartões de crédito é de 2,6%. No débito, é de 1,45%. Segundo Chacon, a entrada de novos players possibilitou essa mudança.
Fonte: VALOR ECONÔMICO